Artigo Original

PERFIL DA MORTALIDADE POR ASFIXIA NO INSTITUTO MÉDICO LEGAL ESTÁCIO DE LIMA EM MACEIÓ – ALAGOAS

Como citar: Silva MB, Gomes MVAG, Duarte ML. Perfil da mortalidade por asfixia no Instituto Médico Legal Estácio de Lima em Maceió – Alagoas. Persp Med Legal Perícia Med. 2018; 3(2).

https://dx.doi.org/10.47005/030201

Projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fund. Universitária de Ciências da Saúde / Escola de Ciências Médicas de Alagoas, sob o parecer/registro/cadastro número 1.482.297, registrado no SISNEP sob o número 51052715.4.0000.5011, contemplado pela bolsa de pesquisa da instituição/programa Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Alagoas – FAPEAL. Os autores informam a inexistência de conflito de interesse na realização desta pesquisa.

PROFILE OF MORTALITY BY CHOKING IN THE LEGAL MEDICAL INSTITUTE OF LIMA IN MACEIÓ – ALAGOAS

Mariana Barros Silva (1)

Lattes:  http://lattes.cnpq.br/7542952936240855

Marcus Vinícius de Acevedo Garcia Gomes (1)

Lattes:  http://lattes.cnpq.br/5494399406966394

Maria Luisa Duarte (1)

Lattes: http://lattes.cnpq.br/1797072187529809 – ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9030-2720

 

(1) Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas, Maceió-AL, Brasil. (Autor principal)

 E-mail: maribarrosmed@gmail.com

RESUMO

A asfixia vem ascendendo como uma importante modalidade de morte violenta em âmbito mundial, estando localmente sujeita a modificações de seu perfil, de acordo com aspectos socioculturais e geográficos. Este estudo possui natureza transversal, observacional, de análise predominantemente descritiva. O mesmo foi realizado no Instituto Médico Legal Estácio de Lima – Maceió /AL, utilizando dados coletados de fichas cadavéricas do período de janeiro de 2011 a dezembro de 2015 com o intuito de traçar o perfil epidemiológico das mortes por asfixia, sendo observadas as seguintes variáveis: gênero, faixa etária, cor / raça, informação do histórico, causa da morte, estado de transformação cadavérica e uso de método de identificação primário ou secundário. Durante o estudo, foi observada uma prevalência de 80,5% dos óbitos de indivíduos masculinos, sendo que a maior parte das vítimas eram jovens ou adultos, atingindo 28,5% e 42,1% dos casos, respectivamente. Quanto ao tipo de asfixia, os mais frequentes consistiram no afogamento (48%), enforcamento (29%) e sufocamento (14%) para todas as faixas etárias; quanto ao mês, janeiro foi considerado o que apresentava maior número de óbitos; e, segundo a ocupação, observou-se um total de 41,2% de indivíduos empregados, seguido de 26% de não informados e de 13,9% de escolares. A partir deste estudo podem ser fornecidos dados úteis para elaboração de políticas públicas mais adequadas à situação vivida pela população local e turistas.

Palavras-chave: hipóxia, asfixia, energia de ordem físico-química, causa de morte.

ABSTRACT

Asphyxiation has been increasing as an important modality of violent death worldwide, being locally subject to modifications of its profile according to sociocultural and geographical aspects. This study presents a transverse, observational, predominantly descriptive analysis. It was performed at the Estácio de Lima Medical Institute – Maceió / AL, using cadaveric records from January 2011 to December 2015 in order to trace the epidemiological profile of deaths by asphyxia, with the following variables being observed: gender, age, color / race, historical information, cause of death, cadaveric transformation status, and use of primary or secondary identification method. During the study, a prevalence of 80.5% of male deaths was observed, with the majority of victims being young or adult, accounting for 28.5% and 42.1% of the cases, respectively. As for the type of asphyxia, the most frequent were drowning (48%), hanging (29%) and suffocation (14%) among all ages; For the month, January was considered the one with the highest number of deaths; And, according to the occupation, a total of 41.2% of employed individuals were followed, followed by 26% of uninformed and 13.9% of students. From this study useful data may be obtained for the elaboration of public policies more appropriate to the situation lived by the local population and tourists.

Keywords: hypoxia, asphyxia, physical-chemical energy, cause of death.

1.INTRODUÇÃO

A asfixia pode ser compreendida como uma condição patológica de alteração da função respiratória, cursando com inibição da hematose, podendo inclusive levar o indivíduo à morte.

Ainda, possui quatro modalidades básicas: impedimento da circulação de ar pelas vias aéreas; constrições cervicais com laço, abrangendo enforcamento e estrangulamento; e sem laço, compreendendo a esganadura; impedimento das excursões respiratórias, como pela compressão da caixa torácica; e modificação do ambiente, englobando o afogamento, soterramento e asfixia por gases. Tal mecanismo patológico está relacionado à causa jurídica da morte, vinculada aos homicídios, bem como suicídio e acidentes (1).

Considerando os achados necroscópicos, os mais comumente identificados são: a cianose de face, presentes no estrangulamento e na esganadura; cogumelo de espuma, no afogamento; projeção da língua e por vezes exoftalmia, no enforcamento; equimoses externas em pele e mucosas visíveis, como no estrangulamento e esganadura; e livores cadavéricos precoces e escuros, sendo que no afogamento tendem a ser róseos. O exame interno pode revelar o sangue de aspecto fluido e de coloração rósea, com a particularidade de ser vermelho vivo na asfixia por monóxido de carbono; petéquias de Tardieu, frequentes na pleura, pericárdio, pericrânio e timo; e congestão visceral de cérebro, coração, pulmões e mucosas respiratórias (2).

No aspecto legal, tende a ser considerada como agravante da pena, quando não constitui ou qualifica crime, pelo art. 61 do Decreto-Lei No. 2848 do Código Penal Brasileiro, ou inclusive qualificando homicídio, como expresso no artigo 121 do mesmo decreto. Há, ainda, ênfase quanto ao uso de gás tóxico ou asfixiante expondo ao risco de vida ou violação da integridade física ou patrimônio de outrem, além de se fabricar, fornecer, adquirir, ter posse ou transportar sem autorização, expressos nos artigos 252 e 253, respectivamente (3).

A quantidade de homicídios, suicídios e acidentes correlacionados a asfixias tende a ser considerada elevada na população em geral, destacando esse mecanismo patológico como um dos principais causadores de êxito letal.

Epidemiologicamente, a asfixia vem ascendendo como uma importante causa de morte violenta, podendo chegar a cerca de 15% destas (4).  Nesse âmbito, o enforcamento é uma das mais frequentes dentre as modalidades de asfixia, sendo seguido por estrangulamento e afogamento (5). Contudo, vale ressaltar que o tipo de asfixia mais incidente em uma localidade pode ser influenciado, em certo grau, pela cultura na qual a população está inserida e pelas particularidades geográficas existentes (6). Além disso, possui padrão bimodal dos tipos em relação à faixa etária: enquanto de 1 a 4 anos de vida a principal causa é o afogamento acidental, acima dos 5 anos em diante prepondera o enforcamento almejando à autolesão (7).

Em âmbito nacional, entre 2000 e 2012, 76,6% dos suicídios por lesão autoprovocada foram através de asfixia, sendo que somente enforcamento, estrangulamento e sufocação foram responsáveis por 75,3% e o 1,3% restante adveio de afogamento / submersão (8).

Ainda, a ocorrência de óbito por afogamento constitui a segunda principal causa de morte (25,6%) por acidente da população jovem (9). Nesse contexto, a morte por afogamento também merece destaque, por ser pouco estudada no Brasil e por ocorrer com média de mortalidade maior que a nacional em cidades costeiras, como Salvador (10). Em paralelo, o afogamento constitui uma importante causa de morte de turistas (11).

Observou-se, em meio ao levantamento do repertório científico, carência de dados referentes ao estado de Alagoas, o qual possui consideráveis recursos hídricos e está em expansão de suas atividades turísticas. As informações decorrentes desta pesquisa permitiram conhecer o padrão de ocorrência do mesmo em diferentes contextos que envolveram as energias físico-químicas na população alagoana, com o intuito de tornar possível a elaboração de políticas públicas mais adequadas à situação vivida pela população local e turista.

2.MATERIAL E MÉTODO

Foi realizado um estudo transversal, do tipo observacional, de caráter descritivo. A coleta de dados foi realizada no Instituto Médico Legal Estácio de Lima em Maceió-AL, no período de agosto de 2016 a janeiro de 2017.

Foram coletadas as informações das fichas dos cadáveres admitidos na instituição, no período de Janeiro de 2011 a Dezembro de 2015, cuja causa de morte deveu-se à asfixia. Ao todo, foram incluídas 548 casos no presente estudo, pois eram referentes às mortes por asfixia. Os dados foram extraídos das fichas por meio de um questionário que abordou as seguintes variáveis: gênero, faixa etária, estado civil, profissão/ocupação, procedência, mês de ocorrência, dia da semana, tipo da asfixia, causa da morte, causa jurídica da morte e informações perinecroscópicas e necroscópicas.

As informações colhidas foram posteriormente armazenadas em um banco de dados desenvolvido especificamente para esta finalidade, por meio do Microsoft Excel 2013®, sendo em seguida realizada uma análise estatística descritiva das variáveis. Os gráficos foram gerados com auxílio do software Origin 8.0®.

Os autores informam a inexistência de conflito de interesse na realização desta pesquisa.

3.RESULTADOS

Através da análise dos registros, pode-se constatar uma maior prevalência de óbitos de indivíduos do sexo masculino, onde os mesmos atingiram um percentual de 80,5% dos casos notificados, enquanto o sexo feminino representou 16,6% do total, restando 2,9% de registros cujo sexo não foi informado. Na Tabela 1 está descrita a caracterização da amostra estudada, onde é possível notar a variável supracitada.

Quando analisada a variável cor/raça, é possível identificar alta prevalência de indivíduos pardos (61,5%), e nenhum registro de óbitos por asfixia de indivíduos indígenas ou amarelos. Entretanto, 13,9% dos registros analisados não informavam uma resposta para essa variável, o que indica que não se pode afirmar, categoricamente, que não houve casos de asfixia envolvendo vítimas indígenas ou de raça amarela. Além disso, não se pode descartar a possibilidade de subnotificação de informações.

Percebe-se, ainda, que a maioria das vítimas apresentava algum vínculo empregatício (41,2%), independentemente de escolaridade, evidenciando que a maior parte das vítimas fazia parte de um grupo economicamente ativo. Segregando os valores, segundo a variável sexo, é possível notar que a maioria das mulheres trabalhava em serviço doméstico.

VariávelMasculino

 

n=441 (80,5%)

N (%)

Feminino

 

n=91 (16,6%)

N (%)

NI

 

n=16 (2,9%)

N (%)

Total

 

(n=548)

N (%)

Faixa Etária        
Criança48 (10,9%)28 (30,8%)1 (6,2%)77 (14%)
Jovens133 (30,1%)17 (16,7%)6 (37,5%)156 (28,5%)
Adultos189 (42,8%)37 (40,6%)5 (31,2%)231 (42,1%)
Idosos43 (9,7%)3 (3,3%)1 (6,2%)47 (8,6%)
Não informado28 (6,3%)6 (6,6%)3 (18,7%)37 (6,7%)
Estado Civil        
Solteiro (a)279 (63,3%)63 (69,2%)11 (68,7%)353 (64,4%)
Casado (a)94 (21,3%)15 (16,5%)1 (6,2%)110 (20%)
União estável4 (0,9%)0 (0%)0 (0%)4 (0,7%)
Viúvo (a)6 (1,4%)2 (2,2%)0 (0%)8 (1,4%)
Divorciado (a)6 (1,4%)3 (3,3%)0 (0%)9 (1,6%)
Não informado52 (11,8%)8 (8,8%)4 (25%)64 (11,7%)
Cor/Raça        
Branca70 (15,9%)18 (19,8%)3 (18,7%)91 (16,6%)
Preta36 (8,2%)7 (7,7%)1 (6,2%)44 (8%)
Parda272 (61,7%)55 (60,4%)10 (62,5%)337 (61,5%)
Indígena0 (0%)0 (0%)0 (0%)0 (0%)
Amarela0 (0%)0 (0%)0 (0%)0 (0%)
Não informado63 (14,3%)11 (12%)2 (12,5%)76 (13,9%)
Ocupação        
Estudante59 (13,4%)16 (17,2%)1 (6,2%)76 (13,9%)
Desempregado (a)6 (1,4%)0 (0%)0 (0%)6 (1,1%)
Empregado (a)211 (47,8%)12 (13,2%)3 (18,7%)226 (41,2%)
Do lar1 (0,9%)26 (28,6%)2 (12,5%)29 (5,3%)
Aposentado (a)29 (6,6%)3 (3,3%)1 (6,2%)33 (6%)
Outro24 (5,4%)12 (13,2%)0 (0%)36 (6,6%)
Não informado111 (25,1%)22 (24,2%)9 (56,2%)142 (26%)
Tabela 1. Caracterização percentual das amostras de mortes por asfixia entre os anos de 2011 e 2015 segundo as variáveis: faixa etária, estado civil, cor/raça e ocupação. Fonte: dados da pesquisa. 2017.

Analisando os tipos de asfixia notificados nos laudos cadavéricos pesquisados, é possível identificar grande prevalência de asfixia por afogamento (48%), seguida de enforcamento (29%) e sufocação (14%), conforme apresentado no gráfico 1.

graf1
Gráfico 1. Tipos de asfixias apresentadas nos laudos cadavéricos pesquisados entre os anos de 2011 e 2015. Fonte: dados da pesquisa. 2017.

Quando separadas por sexo, a prevalência e proporção da modalidade de asfixia se mantém, sendo 51,92% por afogamentos, 29,02% por enforcamento e 12,01% por sufocação nas vítimas do sexo masculino, e 30,76% por enforcamento, 29,67% por enforcamento e 25,27% por sufocação em mulheres. É interessante notar que, apesar de pouco numerosos, todos os casos registrados de esganadura (0,54%) ocorreram no sexo feminino, como mostrado na tabela 2.

variávelMasculino

 

n=441 (80,5%)

n (%)

Feminino

 

n=91 (16,6%)

N (%)

NI

 

n=16 (2,9%)

N (%)

Total

 

(n=548)

N (%)

Tipo de asfixia        
Enforcamento128 (29,02%)27 (29,67%)5 (31,25%) 160(29,19%)
Afogamento229 (51,92%)28 (30,76%)8 (50%) 265(48,35%)
Esganadura0 (0%)3 (3,29%)0 (0%) 3(0,54%)
Estrangulamento23 (5,21%)5 (5,49%)1 (6,25%) 29(5.29%)
Sufocação53 (12,01%)23 (25,27%)2 (12,5%) 78(14,23%)
Soterramento5 (1,13%)1 (1,09%)0 (0%) 6(1,09%)
Gases Irresp.

 

Não especificada

2 (0,45%)

 

1 (0,22%)

3 (3,29%)

 

1 (1,09%)

0 (0%)

 

0 (0%)

 5(0,91%)

 

2(0,36%)

         
Tabela 2. Prevalência das modalidades de asfixia por sexo entre os anos de 2011 e 2015. Fonte: dados da pesquisa. 2017.

Analisando a faixa etária de ocorrência de asfixia, é possível observar que a maioria dos registros aconteceu com indivíduos jovens ou adultos. A quantidade de casos parece ser diretamente proporcional à idade, entretanto, percebe-se uma redução considerável na faixa etária dos idosos, fugindo do padrão de proporcionalidade. De forma geral, levando em conta a modalidade de asfixia, percebe-se que o afogamento foi o mais prevalente em crianças (63,63%), jovens (46,15%) e adultos (46,75%), enquanto o enforcamento (38,29%) foi a modalidade mais prevalente entre os idosos, como mostrado na tabela 3.

variávelCRIANÇA

 

N=77

N(%)

JOVENS

 

N=156

N(%)

ADULTOS

 

n= 231

N(%)

IDOSOS

 

N= 47

N(%)

ni

 

N= 37

N(%)

TOTAL

 

N= 548

N=(%)

tIPO DE ASFIXIA          
Enforcamento2 (2,59%)54 (34,61%)80 (34,63%)18 (38,29%)6 (16,21%)160 (29,19%)
Afogamento49 (63,63%)72 (46,15%)108 (46,75%)16 (34,04%)20 (54,05%)265 (48,35%)
Esganadura0 (0%)2 (1.28%)0 (0%)0 (0%)1 (2,7%)3 (0,54%)
Estrangulamento

 

Sufocação

Soterramento

Gases Irresp.

Não especificada

3 (3,89%)

 

20 (25,97%)

1 (1,29%)

1 (1,29%)

1 (1,29%)

10 (6,41%)

 

17 (10,89%)

0 (0%)
1 (0,64%)

0 (0%)

6 (2,59%)

 

30 (12,98%)

4 (1,73%)

2 (0,86%)

1 (0,43%)

2 (4,25%)

 

9 (19,14%)

1 (2,12%)

1 (2,12%)

0 (0%)

8 (21,62%)

 

2 (5,4%)

0 (0%)

0 (0%)

0 (0%)

29 (5,29%)

 

78 (14,23%)

6 (1,09%)

5(0,91%)

2 (0,36%)

           
Tabela 3. Prevalência de modalidades de asfixia por faixa etária entre os anos de 2011 e 2015. Fonte: dados da pesquisa. 2017

Abaixo, na Tabela 4, estão expostos os valores referentes a frequência absoluta (FA), frequência relativa (FR) e frequência relativa acumulada (FRA).

MêsFrequência AbsolutaFrequência Relativa (%)Frequência Relativa Acumulada (%)
Jan

 

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

64

 

48

49

51

57

29

27

39

29

54

50

11,68

 

8,76

8,95

9,30

10,40

5,29

4,93

7,11

5,29

9,85

9,14

11,67

 

20,43

29,38

38,68

49,08

54,37

59,30

66,41

71,70

81,55

90,70

Dez519,30100,00
TOTAL 100,00 
Tabela 4. Tabela de frequências absolutas, relativa e relativa acumulada de mortes por asfixia mensal entre os anos de 2011 e 2015. Fonte: dados da pesquisa. 2017.

A frequência absoluta expressa o número exato e total de mortes por asfixia que ocorreram mensalmente entre os anos de 2011 e 2015, onde é possível notar que o mês de janeiro foi o que apresentou maior número de mortes, alcançando um total de 64 óbitos. Já o mês de julho foi o que apresentou menor número de óbitos no período, sendo um total de 27 óbitos. Consequentemente, os meses de janeiro e julho apresentaram as maiores e menores frequências relativas, que expressa o valor em percentagem referente a cada mês. A frequência relativa acumulada expôs os valores percentuais ao longo dos meses, demonstrando assim o quanto acumulou mês a mês.

Após a tabulação dos dados e a distribuição de frequência, foram encontrados os valores típicos que representam a distribuição como um todo, isso, através das medidas de tendência central e variabilidade de dados, também conhecidas como medidas de posição (Tabela 5).

ParâmetrosValores
Média

 

Mediana

Moda (bimodal)

45,66

 

49,50

29; 51

Desvio Padrão49,17
Coeficiente de Variação (%)107,6
Tabela 5. Medidas de tendência central e variabilidade dos dados coletados durante a pesquisa. Fonte: dados da pesquisa. 2017.

Os dados ao longo da pesquisa apresentaram uma média 45,66 e uma mediana 49,50 óbitos por mês, já a moda mostrou-se de forma bimodal, com os valores de 29 e 51 óbitos, sendo os mais frequentes na série de dados.

É importante esclarecer que os valores referentes a desvio padrão e coeficiente de variação, servem apenas como base neste tipo de pesquisa para estimar a variância total dos dados em torno das medidas de tendência central, tendo em vista que a pesquisa se baseou num levantamento de dados.

4.DISCUSSÃO

No presente estudo, pode-se constatar que 80,5% dos óbitos foram de indivíduos do sexo masculino, assim como foi observado no estudo de Singh et al. (15), realizado nos Estados Unidos da América (EUA), que mostrou que 68,3% das mortes por asfixia foram neste sexo.  Mostrando-se compatível com a literatura, visto que as causas violentas de morte tendem a ocorrer mais comumente em homens (5). Além disso, o maior envolvimento do sexo masculino em mortes por asfixia pode ser justificado pelo seu trabalho físico extenuante e exposição ambiental a acidentes trabalhistas (15).

De acordo com a faixa etária, jovens (28,5%) e adultos (42,1%) apresentam maiores percentuais dentre os óbitos, com possível justificativa de estarem mais expostos à violência do meio (4). Tal fato também pode ser verificado estudo realizado nos EUA (15). Contudo, percebe-se uma considerável porcentagem de óbitos no sexo feminino na faixa etária infantil, o que já foi encontrado em estudos anteriores, mas que poderia ser atribuível às mortes acidentais nessa faixa etária (12).

Relativo à ocupação, observou-se uma maior quantidade percentual de indivíduos empregados (41,2%), seguido de não informados (26%) e de escolares (13,9%), o que não pôde ser verificado na literatura por falta de dados a cerca dessa variável nos estudos disponíveis. Segundo estudo realizado acerca de afogamentos na cidade de Salvador – Bahia, percebeu-se uma maior frequência destes nos estudantes, na ordem de 67,7, atribuindo-se esse valor ao fator acidental relacionado à faixa etária dos escolares (10). Contudo, tal observação diz respeito aos afogamentos especificamente, não se aplicando às asfixias na sua totalidade. Além disso, a grande quantidade de registros sem esta informação prejudicou a interpretação desse dado.

Quanto à modalidade de asfixia, há divergência entre os estudos. Embora existam frequentes pesquisas com maior prevalência de enforcamentos, seguido de afogamento e estrangulamento (6), há regiões em que o afogamento consiste na principal causa de morte (5). No presente estudo, 48% dos óbitos foram atribuíveis ao afogamento, enquanto 28% a enforcamento e 14% a sufocação, distribuição essa que se manteve para ambos os sexos. Além disso, observou-se que os três casos de esganadura foram em vítimas femininas, sendo que a maior prevalência nesse sexo é compatível com a literatura, a qual demonstra que vítimas do sexo masculino predominam em todas as modalidades de asfixia, com exceção da esganadura e sufocação (13). Estudos relatam que a esganadura é um método comum de homicídio particularmente praticado em mulheres e crianças pequenas (15). Contudo, destaca-se a pequena quantidade de registros desse tipo de asfixia, o que pode ter influenciado no resultado.

Com relação à porcentagem destinada aos sufocamentos, essa divergiu bastante da literatura, visto que costuma ser bem menor comparada às principais causas (13). As porcentagens referentes à esganadura e ao estrangulamento não fizeram dessas as principais modalidades de asfixia, o que também está de acordo com demais estudos (5). Contudo, é necessário destacar que o perfil de asfixias está sujeito a modificações de acordo com o contexto sociocultural e as particularidades geográficas dos locais estudados.

Contextualizando o tipo de asfixia com a faixa etária, as crianças foram mais frequentemente vítimas de afogamento (63,63%), sufocação (25,97%) e estrangulamento (3,89%). Analisa-se que tal ordem de prevalência coincide com o repertório científico, estando atribuída principalmente a causas acidentais (14). Tanto em crianças e jovens como em adultos, as principais causas de óbito encontradas consistiram no afogamento, seguido do enforcamento e da sufocação, já em idosos, o enforcamento se mostrou mais prevalente, o qual é uma importante causa de suicídio, que é verificado em maior frequência nessa faixa etária no Brasil (8). Quando confrontados com a literatura, o afogamento e o enforcamento são as principais modalidades encontradas nessas faixas etárias, podendo sofrer modificações a depender do estudo realizado. Contudo, neste estudo, a sufocação apareceu como a terceira principal causa, informação discordante com o levantamento bibliográfico (6,13,15).

Em se tratando do período de ocorrência das mortes, o mês de maior número de óbitos foi janeiro (11,68%) e o de menor ocorrência foi julho (4,93%). Sabe-se que o estado de Alagoas, sobretudo Maceió, é considerado favorável para utilização de praias, principalmente no período de férias escolares, o que pode aumentar o número de óbitos por afogamento, sendo esta a principal causa de óbitos neste estudo. Esse achado foi divergente do estudo realizado por Sales em Fortaleza, no qual foi verificado que o mês de maior ocorrência foi abril (16). No entanto foi similar ao que foi verificado por Segundo em Bahia, o qual teve maior ocorrência em janeiro e menor em junho (10).

5.CONCLUSÃO

Verifica-se, diante do estudo, que o sexo masculino encontra-se mais frequentemente acometido não somente pelas asfixias, mas como outras causas de morte violenta. Em paralelo, o afogamento consiste na principal causa de morte em todas as faixas etárias, além de o mês de janeiro ser o que detém, em média, o maior número de óbitos. Isso se torna alarmante na medida em que o estado de Alagoas é dotado de consideráveis recursos hídricos e possui o turismo, visando principalmente o ambiente praiano, como uma atividade financeira em ascensão, com um fluxo cada vez maior de turistas, sendo os meses de férias escolares os mais procurados para visitação. Lembrando que durante uma época, o turismo na nossa região trabalhou com o slogan: “Alagoas, o paraíso das águas”. Durante a pesquisa, foi possível verificar disponibilidade de estudos relacionados a mortes por afogamento em alguns dos estados litorâneos do Brasil, os quais possuem importante atividade turística relacionada a recursos hídricos, no entanto, não há registros de estudos deste tipo no estado de Alagoas, o que dificultaria a implantação de políticas públicas de prevenção a tais acidentes por desconhecimento de fatores relacionados aos mesmos.

Nesse contexto, entende-se que as mortes por asfixia mecânica estejam sujeitas a modificações de acordo com o perfil sociocultural e particularidades geográficas da região analisada. Espera-se que os dados obtidos por este levantamento permitam que políticas públicas sejam traçadas com o intuito de resguardar os indivíduos que se situam na área estudada, apesar da dificuldade encontrada para análise dos dados do estudo, tanto por restrito material encontrado na literatura, quanto por ausência de informações mais detalhadas sobre cada caso.


Referências bibliográficas

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