Aimée Christine Alcântara Ribeiro Szönyi Porto(1)
Carmen Silvia Molleis Galego Miziara (2)
Daniele Muñoz Gianvecchio(3)
Ivan Dieb Miziara (4)
Daniel Romero Muñoz (5)
- Médica Residente de Medicina Legal e Perícia Médica do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica, Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
- Professora do curso de Especialização em Medicina Legal e Perícia Médica da FMUSP.
- Professora do curso de Especialização em Medicina Legal e Perícia Médica da FMUSP.
- Professor associado do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica, Medicina Social e do Trabalho da FMUSP.
- Professor Titular do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica, Medicina Social e do Trabalho da FMUSP.
INTRODUÇÃO
Após a morte somática, dá-se início o processo de destruição gradual dos tecidos que sofrem interferências intrínsecas, próprios da constituição anatômica e possíveis comorbidades existentes em vida, e extrínsecas, que compõem o ambiente onde o cadáver permaneceu. Dentre os fenômenos transformativos, a putrefação dá início ao processo destrutivo. Desse modo, torna-se árdua a diagnose da causa mortis quando nos defrontamos com um cadáver em avançado estado de putrefação.
O OBJETIVO deste estudo foi descrever as principais dificuldades na determinação da causa mortis em corpos em estado de putrefação e as novas possibilidades diagnósticas.
MÉTODO
Estudo descritivo por meio de revisão de literatura na base de dados PubMed. Os descritores empregados foram putrefied e cadaveric putrefaction.
MARCO CONCEITUAL
A partir dos conhecimentos atuais, é possível aplicar ferramentas que auxiliem a minimizar os problemas advindos da decomposição para a diagnose da causa mortis.
RESULTADOS
Durante a putrefação, ocorre fermentação por micro-organismos com formação de etanol. Seu metabólito direto, o etil-glicuronídeo (EtG), é produzido em vida no retículo endoplasmático dos hepatócitos, e pode ser utilizado para diferenciar a produção post mortem de etanol. O acetaldeído e o n-propanol são marcadores produzidos no processo de putrefação. Entretanto, em estados avançados de putrefação, é recomendável a dosagem de drogas e/ou fármacos em amostra de humor vítreo, mais resistente à putrefação (1), ou análise microscópica de tecido encefálico. A detecção de proteína precursora de beta-amiloide (β-APP) por imunocitoquímica pode indicar lesão traumática e guiar o diagnóstico de demência de Alzheimer (2). A avaliação do corpo em exames de imagem pode ser de grande auxílio para elucidar questões envolvidas na causa da morte. Com o multidetector computed tomography (MDCT) pode-se observar o livor mortis, porém, há dificuldades em diferenciar o livor de contusões e equimoses produzidas em vida, o livor na vasculatura pode ser confundido com trombose. O livor nos pulmões também pode ser confundido com consolidação; deve-se avaliar cuidadosamente a distribuição, o contorno e anormalidades adjacentes para a diferenciação (3). Em relação às mudanças externas do corpo, incisões cirúrgicas podem sofrer ação dos gases da putrefação e romper. Elas podem ser diferenciadas de lesões fatais devido à sua morfologia de bordas limpas, similares e sem hemorragia significativa, com preservação de órgãos e vasos vitais, além da possibilidade de haver ainda material de sutura nos planos mais profundos (4). CONCLUSÃO: Diante da grande dificuldade em determinar a causa da morte em cadáver putrefeito, novos métodos (microscopia, toxicologia e imagem) podem auxiliar a análise macroscópica do médico legista. Ao final, mors omnia solvit – a morte dissolve tudo.
Palavras chave: Putrefação; Cadáver Putrefeito, Causa Mortis.
Referências bibliográficas
REFERÊNCIAS
- Vezzoli S, Bernini M, Ferrari FD. Ethyl glucuronide in vitreous humor and blood postmortem specimens: analysis by liquid chromatography – electrospray tandem mass spectrometry and interpreting results of neo-ormation of etanol. Ann. dell’Istit. Super. Sanità. Roma, 2015:51(1); p19-27.
- Mackenzie j. m. examining the decomposed brain. Amer J For Med Pathol. 2014:35(4); p265-270.
- Levy AD, Harcke HT, Mallak CT. Postmortem imaging – MDCT features of postmortem change and decomposition. Amer J For Med Pathol. 2010:31(1); p12-17.
- Byard RW, Gehl A, Anders S, Tsokos M. Putrefaction and wound dehiscence – a potentially confusing postmortem phenomenon. Amer J For Med Pathol. 2006:27(1); p61-63.