Resumos

FATORES DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DE TRANSTORNOS MENTAIS NÃO PSICÓTICOS EM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA POR PARCEIRO ÍNTIMO

Cinthia Emy Endo Amemiya (1)
Luan Salguero de Aguiar (1)
Beatriz Fernandes Diogo Alves (1)
Carmen Sílvia Molleis Galego Miziara (2)
Mário Ivo Serinolli (3)
Ivan Dieb Miziara (4)

 

1 Discentes do curso de medicina da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) – email: luan.salguero@hotmail.com

2 Professora do curso de Especialização em Medicina Legal e Perícia Médica da FMUSP.

3 Professor auxiliar da disciplina de Medicina Legal e Perícia Médica na Universidade Nove de Julho – Vergueiro SP (UNINOVE).

4 Professor Titular do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica, Medicina Social e do Trabalho da FMUSP.

 

INTRODUÇÃO

Violência contra mulher causada por parceiro íntimo (VPI) é considerada grave problema de Saúde Pública por sua elevada frequência e morbimortalidade, por implicar transtornos psicossociais que repercutem negativamente na produtividade global das vítimas. Assim, o objetivo deste trabalho foi descrever as consequências mentais e a produtividade de mulheres vítimas de VPI.

MÉTODO

Estudo descritivo transversal através da aplicação de questionários validados a mulheres vítimas de VPI e ao grupo controle que avaliam produtividade no trabalho e na vida diária, transtornos mentais não psicóticos, sociodemografia e tipo de violência.

MARCO CONCEITUAL

VPI é fator de risco para o desenvolvimento de doença mental não psicótica e redução da capacidade de realização de atividades laborais e da vida diária.

RESULTADOS

Foram selecionadas 43 mulheres do grupo de estudo e 40 do grupo controle. Não houve diferenças entre os grupos em relação a: idade (p=0,051); cor da pele autodeclarada (p=0,316); escolaridade (p=0,212); ganho salarial (p=0,052) e abortamento (p=0,096). Houve diferenças: classificação socioeconômica (p<0,001); gestações (p=0,0013); partos (p=0,004); filhos (p=0,0009) e dependentes (p=0,0372). Cor da pele não foi fator de risco para VPI (p=0,286), mas para transtorno mental naquelas VPI (p=0,016), com chance 4,25 vezes (OR) maior naquelas não brancas. Violência psicológica foi declarada em todas os relatos, isolada (22,2%) ou associada a outras formas de violência. VPI aumenta em 12,64 vezes a chance (OR) de transtorno mental em comparação ao grupo controle (p=0,002); VPI limita tanto a quantidade quanto a capacidade de realização de atividades regulares diárias e no trabalho remunerado (p=0,001). A ocupação profissional reduz a chance de ter doença mental em 0,23 vezes (OR) (p = 0,033) e o trabalho remunerado reduz essa chance nos grupos VPI e controle (p=0,012).

CONCLUSÃO

Agressões psicológicas são as formas mais aplicadas pelo agressor, influenciando negativamente a autoestima das mulheres e limitando que elas se desvencilhem do agressor, assim como as doenças mentais podem ser decorrentes dos abusos. Mulheres com filhos e sem trabalho remunerado se mostram mais vulneráveis ao agressor. Assim, o trabalho remunerado reduz a chance de transtornos mentais, dando às mulheres maior autonomia.

 

 


Referências bibliográficas

REFERÊNCIAS

1- Organização Mundial da Saúde (OMS). Prevenção da violência sexual e da violência pelo parceiro íntimo contra a mulher: ação e produção de evidência. Washington: OMS; 2010. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44350/3/9789275716359_por.pdf

2- Schraiber LB, Latorre MR, França I Jr, Segri NJ, D’Oliveira AF. Validity of the WHO VAW study instrument for estimating gender-based violence against women. Rev Saude Publica. 2010 Aug: 44(4); p658-66. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102010000400009.

3- d’Oliveira AF, Schraiber LB, França-Junior I, Ludermir AB, Portella AP, Diniz CS et al. Fatores associados à violência por parceiro íntimo em mulheres brasileiras. Rev Saúde Púb. 2009:43(2); p299-311. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102009000200011&lng=en&tlng=pt.

4- Gonçalves DM, Stein AT, Kapczinski F. Avaliação de desempenho do Self-Reporting Questionnaire como instrumento de rastreamento psiquiátrico: um estudo comparativo com o Structured Clinical Interview for DSM-IV-T. Cad Saúde Púb. 2008:24(2); p380-390. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2008000200017