Murilo Sérgio Valente-Aguiar (1, 2)
Ana Cecília Guedes Pereira Falcão (3)
Genival Queiroga Junior (2)
Ricardo Jorge Dinis-Oliveira (1, 4, 5)
1 Department of Public Health and Forensic Sciences, and Medical Education, Faculty of Medicine, University of Porto, Porto, Portugal.
2 Legal Medical Institute of Porto Velho, Civil Police of the State of Rondônia, Brazil.
3 Medicine Student of Faculdades Integradas Aparício de Carvalho – FIMCA, Porto Velho-RO, Brazil.
4 IINFACTS – Institute of Research and Advanced Training in Health Sciences and Technologies, Department of Sciences, University Institute of Health Sciences (IUCS), CESPU, CRL, Gandra, Portugal.
5 UCIBIO-REQUIMTE, Laboratory of Toxicology, Department of Biological Sciences, Faculty of Pharmacy, University of Porto, Porto, Portugal.
E-mail: medicolegista-murilo@valente-aguiar.med.br; ricardinis@med.up.pt
INTRODUÇÃO
Os legistas da Amazônia periciam corpos afogados, resgatados dos rios da bacia amazônica, que apresentam um percentual considerável de lesões produzidas pela ação da ictiofauna cadavérica e reconhecem o “Candiru” como o peixe responsável por tais lesões. Fora da Amazônia, a espécie citada como a responsável são as “piranhas”. Este trabalho tem a finalidade de apresentar e diferenciar as espécies de peixes responsáveis pelo maior número de ataques a cadáveres na região de Porto Velho-RO, no Brasil, e descrever as estratégias alimentares e os tipos de lesões causadas por cada uma das espécies, bem como desmistificar a lenda da “piranha devoradora de homens”.
METODOLOGIA
Estudo retrospectivo baseado na análise dos laudos de autópsia forense, elaborados no Instituto de Medicina Legal de Porto Velho-RO, Brasil (IML/RO), entre 1º de janeiro 2014 e 31 de dezembro de 2018, tendo como critério de inclusão o afogamento. Foi realizada uma revisão bibliográfica de estudos relacionados à ictiofauna local de peixes detritívoros, além de consulta a pesquisadores de ictiofauna e de populações ribeirinhas para verificar o status do conhecimento sobre a participação dessas espécies nos ataques a cadáveres.
RESULTADOS
No período analisado, foram realizadas 100 autópsias forenses no IML/RO em corpos afogados. Todos os casos de ataques da ictiofauna ocorreram em reservatórios hídricos naturais, representando 21% das autópsias. Peixes de duas famílias distintas foram identificados como os responsáveis pela ação necrófaga: Família Cetopsidae (Cetopsis candiru e Cetopsis coecutiens) e Família Pimelodidae (Calophysus macropterus) (1). A outra espécie que os nativos da Amazônia também denominam de Candiru é um peixe pequeno e transparente, que pertence à família dos Tricomicterídeos, sendo a espécie mais conhecida no Brasil a Vandellia cirrhosa. Por serem hematófagos e se alimentarem de sangue das brânquias de peixes maiores, são conhecidos como “peixes-vampiros” (2), porém estes não participam da destruição dos corpos.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Um grupo extenso de peixes da bacia amazônica são onívoros e eventualmente se alimentam de carcaças. Peixes de duas famílias distintas foram identificados como os responsáveis pela ação necrófaga nos corpos submersos nas águas do rio Madeira: Família Cetopsidae (“Candiru e Candiru-açu”) e Família Pimelodidae (“Piracatinga”). As piranhas se alimentam de peixes vivos, doentes ou sangrando e, raramente, comem carniça e, quando comem, é por serem carnívoros oportunistas. Os corpos afogados que apresentam ação da ictiofauna têm essa ação erroneamente atribuída às piranhas. O corpo humano não faz parte do cardápio das piranhas.
Referências bibliográficas
REFERÊNCIAS
1.Queiroz LJ, Torrente-Vilara G, Ohara WM, Pires THSJZ, Doria CRC. Peixes do rio madeira. 1ed. São Paulo: Dialeto Latin American Documentary; 2013. v. 2.
- Arango Toro OJ, Arango SA, Miranda EF. Vandellia cirrhosa, poorly known urologic parasite. Actas Urol Esp. 2001:25(4); p325-326.