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A CAMPANHA CHOOSING WISELY NO ATENDIMENTO PERICIAL DAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL

Os autores informam não haver conflito de interesse.

Ana Maria Soares Rolim (1,2)
Ana Carolina de Oliveira Almeida (2)
Lucas Chagas Aquino (2)
Igor Cardoso Freire (2)
Matheus Mota e Britto (2)
Bruno Gil de Carvalho Lima (2,3)

(1) Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR)
(2) Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP)
(3) Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Introdução

A campanha Choosing Wisely (CCW) é uma iniciativa desenvolvida nos EUA, em 2012 e propõe discussão entre os especialistas para elaboração de listas com proposições contraindicando algumas práticas médicas, baseado em evidências científicas. A ideia para esse trabalho foi a avaliar se existia um lugar para CCW na Medicina Legal (ML), em especial na Sexologia Forense (SF), no atendimento às vítimas de violência sexual (VS).

Objetivos específicos

Implantar a CCW e criar lista CW em serviço de referência pericial de atendimento às vítimas de VS.

Metodologia

Trata-se de um estudo de modelo intervencionista. Foram escolhidos 24 peritos médico-legistas (PML) por titulação, que elaboraram treze proposições. Destas, oito foram selecionadas para compor a lista CW (Escala Likert). Foram afixados banners nos consultórios e oficinas foram realizadas para divulgação e discussão.

Marco conceitual

Teoria do clima social (socialização baseada em gênero e scriptis sexuais).

Resultados

Ampla revisão de literatura embasou a lista da CCW: (1) Não solicite exames para pesquisa de espermatozoides, PSA e reserva de DNA em secreções biológicas se tiver transcorrido mais de 72 horas da VS; (2) Não solicite teste de gravidez em pacientes do sexo feminino pré-púberes vítimas de VS; (3) Não solicite exames toxicológicos rotineiramente nas vítimas de VS; (4) Não indique a utilização emergencial de antibioticoprofilaxia ou o uso de antirretrovirais profiláticos em pacientes com abuso sexual crônico; (5) Não interprete como achado físico positivo de abuso sexual, a presença de fendas em quadrantes superiores do hímen das crianças, quando não houver sinais de traumatismo agudo; (6) Não interprete como achado físico positivo de abuso sexual, a medida ampliada do diâmetro do orifício himenal (óstio) nas crianças; (7) Não interprete como achado físico positivo de abuso sexual, a presença de dilatação anal em crianças; (8) Não indique, de forma rotineira, a realização de exames para pesquisa de Infecções Sexualmente Transmissíveis, em crianças atendidas com suspeita de VS.

Discussão

A implantação da CCW, além de sensibilizar os PML frente à VS; promoveu atualização científica; e possibilitou a troca de conhecimentos em discussões nas oficinas.

Conclusão

A CCW se aplica à ML. A lista CW criada para o atendimento das vítimas de VS é pioneira e representa um avanço na SF. A validação da lista a nível nacional é uma meta a ser atingida.

Palavras chaves: choosing wisely, medicina legal, sexologia forense, violência sexual.


Referências bibliográficas

  1. ADAMS, Joyce A. Understanding Medical Findings in Child Sexual Abuse: An Update For 2018. Academic Forensic Pathology, 8(4), 924–937, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1177/1925362118821491. Acesso em: 05 fev 2019
  2. AMERICAN BOARD OF INTERNAL MEDICINE FOUNDATION.. Choosing Wisely®. Promoting conversations between patients and clinicians. Disponível em: http://www.choosingwisely.org/. Acesso em: 13 mar. 2018.
  3. SMITH, Tanya D.; RAMAN, Sudha R.; MADIGAN, Sheri; WALDMAN, Judy; SHOULDICE, Michelle. Anogenital Findings in 3569 Pediatric Examinations for Sexual Abuse/Assault. J Pediatr Adolesc Gynecol; 31(2):79-83, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jpag.2017.10.006. Acesso em: 17 dez 2018
  4. Sociedade de Pediatria de São Paulo. Sociedade Brasileira de Pediatria. Manual de atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência. Coordenação: WAKSMAN, Renata Dejtiar; HIRSCHHEIMER, Mário Roberto; PFEIFFER, Luci. – 2ª.ed. Brasília, DF: Conselho Federal de Medicina, 2018. Disponível em: https://www.spsp.org.br/downloads/Manual_Atendimento_Crian%C3%A7as_Adolesc entes_V%C3%ADtimas_Viol%C3%AAncia_2018.pdf. Acesso em: 21 fev 2019.