Claude Jacques Chambriard (1)
http://lattes.cnpq.br/6391220773880758 – https://orcid.org/0000-0003-0124-0930
(1) Perito Legista da Polícia Civil, Departamento Geral da Polícia Técnica e Científica, Niterói-RJ, Brasil
Email: claudechambriard@yahoo.com.br
Senhor Editor,
As mortes ocasionadas por PAF são cada vez mais frequentes e, o encontro destes PAFs é de fundamental importância para o rastreamento e possível identificação do Autor. Não raro, no exame de necrópsia, pela sobreposição de vísceras, sangue e localizações esdrúxulas, o encontro do PAF se torna impossível. Para auxiliar o perito nesta busca, constata-se a importância da utilização de aparelho de raios X durante o exame necroscópico.
Neste contexto, apresentamos a localização esdrúxula de repouso de um PAF, assim como a relevância da utilização do aparelho de raios X durante o exame de necropsia.
Sobre o tema:
Tema extremamente importante e, em nosso meio, cada vez mais comum; é no estudo das lesões produzidas por projétil de arma de fogo que os peritos, legistas ou criminais têm a oportunidade de obter elementos para tentar estabelecer a possível dinâmica do evento, como a distância do disparo, a incidência, a possível, e extremamente variável, posição do agressor e a da vítima, se a vítima sobreviveu, enfim, tema assaz desafiador e fascinante.
No exame interno da vítima, quando for possível encontrar o projétil responsável pelas lesões, poder-se-á chegar, às vezes, à arma que o disparou e, quem sabe, até mesmo à autoria do disparo.
Atualmente, a Polícia Técnico-Científica do Rio de janeiro, dispõe de aparelho de raios X, o que permite, com mais facilidade, a identificação e localização dos PAFs no interior do cadáver, assim como de outros corpos estranhos.
Na fotografia acima, tomada no Posto Regional de Polícia Técnico-Científica (PRPTC) de Niterói, demonstramos a utilização do aparelho de raios X durante a procura de PAF no corpo do cadáver.
Repare que existe uma imagem na qual o perito observa o corpo, para escolher o local que deseja radiografar.
Na fotografia abaixo, tomada no Posto Regional de Polícia Técnico-Científica (PRPTC) de Niterói, demonstramos a utilização do aparelho de raios X durante a procura de PAF no corpo do cadáver.
Repare que a fotografia permite a visão da entrada da câmara onde o cadáver é posicionado para a realização do exame.
Sobre o caso:
Como exemplo da importância do aparelho de raios X no exame de necrópsia, apresentamos caso clínico, da lavra do autor, no qual o PAF, após haver penetrado pela face lateral do quadril esquerdo da vítima, encontrou repouso no interior de corpo do pênis, localização extremamente rara, só sendo possível identificar sua localização com o auxílio do aparelho de raios X. Na fotografia disposta abaixo, identifica-se a ferida de entrada do Projétil de Arma de fogo. Cadáver já se encontrava nos primeiros estágios da putrefação.
Após exaustiva procura pelo PAF, sem lograr êxito, o aparelho de raios x foi utilizado, o exame radiológico foi realizado e o PAF foi finalmente encontrado. O aparelho de raios X não foi utilizado inicialmente por que a equipe subestimou a dificuldade de seu encontro, tanto pela localização da ferida de entrada do PAF quanto pelo sítio anatômico ser preferencialmente ósseo, acreditando que o encontro seria simplificado.
Na fotografia abaixo, tomada no Posto Regional de Polícia Técnico-Científica (PRPTC) de Niterói, demonstramos a utilização do aparelho de raios X durante a procura de PAF no corpo do cadáver, sendo o mesmo identificado no interior do corpo do pênis.
Na fotografia abaixo, demonstramos o corpo do pênis do cadáver, de onde foi retirado o PAF. Apenas com o auxílio do aparelho de raios X foi possível a localização do projétil, assim como sua recuperação no interior do corpo do pênis.
Na fotografia abaixo, apresentamos o PAF recuperado e enviado para exame.
Comentários conclusivos:
A relevância deste caso se dá pelo fato de que, sem o uso aparelho de raios X (flatscan), tendo apenas a ferida de entrada do PAF como referência, a procura pelo mesmo no interior do corpo do cadáver seria por demais penosa, e com importante mutilação, uma vez que, à medida que se avança na procura, mais e mais tecido é seccionado, o que aumenta em muito o tempo de exposição da equipe e a avaria nas estruturas anatômicas.
Podemos tambem contrariar a falsa idéia de que o encontro de PAFs no interior do corpo humano é uma das tarefas mais fáceis no exame necroscópico, pelo contrário: com a presença de sangue e outras secreções, alem da quantidade de vísceras, o encontro de PAFs é, na verdade, um dos mais difíceis e penosos momentos do referido exame.
Diante desta dificuldade, constata-se que a existência de aparelho de raio X em todos os serviços de necropsias dos Institutos de Medicina Legal do país é da mais alta relevância, sendo mesmo condição obrigatória.