A pesquisa contida neste artigo é resultado de Pós-doutorado realizado no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), no período de outubro de 2020 a dezembro de 2021 sob a supervisão das Profas. Eméritas Zélia Ramozzi-Chiarottino e Eda Terezinha de Oliveira Tassara e aprovada em 07/03/2022, pela Pró-Reitoria de Pesquisa desta Universidade.
DOCTRINAL EXPERT MEDICINE IN A BIOPSYCHOSOCIAL EPISTEMOLOGICAL STUDY OF THE CONCEPTS OF EPIGENESIS AND EPIGENETICS
José Jozefran Berto Freire(1)
http://lattes.cnpq.br/5765442081508009 – https://orcid.org/0000-0003-1817-9427
(1) Universidade Estadual de Pernambuco. Recife-PE, Brasil (autor principal)
E-mail: jjbertofreire@gmail.com
RESUMO
Introdução: Este artigo tem como objeto tratar o tema da medicina pericial doutrinária em um estudo epistemológico biopsicossocial dos conceitos de epigênese e de epigenética, sob uma ótica que contempla as vertentes biológicas, psíquicas e sociais, tanto sob os aspectos da normalidade fisiológica quanto sob o olhar da patologia psíquica e física. Método: Pesquisa conceitual histórica de natureza qualitativa, crítica e prospectiva dos termos “epigênese” e “epigenética”. Este estudo levantou textos históricos e atuais que tratam destes conceitos e propôs uma avaliação deles por meio de aproximações filosóficas e biopsicossociais, apresentando uma doutrina original de aplicação destes conceitos à medicina pericial. Discussão: Sabe-se que o termo epigênese foi lavrado por Aristóteles para explicar o evoluir dos seres vivos após a sua formação básica, por exemplo, a singamia. O termo epigenética foi criado por Waddington para explicar o estudo causal do desenvolvimento, ou seja, identificar, compreender e entender as causas que proporcionam o desenvolvimento dos seres vivos. Os termos epigênese e epigenética evoluíram em termos conceituais. Conferiu-se maior abrangência ao significado da palavra epigênese, aplicando-a a diversos cenários. Com o termo epigenética as significações evoluíram a tal ponto que hoje é uma área da biologia que instrumentaliza pelos seus mais conhecidos métodos: a metilação do DNA, as modificações nas histonas e a expressão do RNA não codificante, ou seja, todo o processo de alterações herdáveis e reversíveis de alterações gênicas que não impactam o DNA. Conclusão: O estudo feito e consignado neste artigo mostrou que ambos os conceitos estão contextualizados em amplo ambiente fundamentado nos aspectos biopsicossociais do conhecimento científico.
Palavras-chave: biopsicossocial, epistemologia, epigênese, epigenética, epigênico, medicina pericial.
ABSTRACT
Introduction: This article aims to address the topic of doctrinal expert medicine in a biopsychosocial epistemological study of the concepts of epigenesis and epigenetics from a perspective that contemplates the biological, psychic and social approaches, both from the aspects of physiological normality and from the perspective of psychic and physical pathology. Method: Historical conceptual research of a qualitative, critical and prospective nature of the terms “epigenesis” and “epigenetics”. This study raised historical and current texts that deal with these concepts and proposed a philosophical and biopsychosocial approach to their meaning, presenting an original doctrine for applying them to expert and forensic medicine. Discussion: It is known that the term epigenesis was coined by Aristotle to explain the evolution of living beings after their basic training, for example syngamy. The term epigenetics was created by Waddington to explain the causal study of development, that is, to identify and understand what causes the development of living beings. The terms epigenesis and epigenetics evolved in conceptual terms. The meaning of the word epigenesis was given greater scope, applied to different scenarios. The different meanings of the term epigenetics evolved to the point where it defines an area of biology that uses its best-known methods: DNA methylation, histone modification and the expression of non-coding RNA, that is to say the entire process of heritable changes and reversible gene alterations that do not impact DNA. Conclusion: The study carried out and included in this article showed that both concepts are contextualized in a broad environment based on the biopsychosocial aspects of scientific knowledge.
Keywords: biopsychosocial, epistemology, epigenesis, epigenetic, epigenic, expert medicine, forensic medicine.
1. INTRODUÇÃO
Desde pelo menos a época de Aristóteles(1), o termo epigênese rege o processo que orientou a ciência no entender do desenvolvimento posterior à formação básica, essencial dos seres vivos e percebido pelo filósofo ao observar a natureza. O tema é tratado pelo filósofo em História dos animais; Parva Naturalia; da Geração e da corrupção; da Natureza; Da memória; Da Medicina etc. A partir desta observação realizada por Aristóteles, diversos filósofos que o sucederam ao longo do tempo disseram que o Estagirita teria praticamente criado a filosofia da natureza, ou pelo menos a estruturado, tal a diversidade de estudos, pesquisas, textos, livros que escreveu sobre o mundo das ciências da biologia (sensu lato). Tais trabalhos são de domínio público e neles, especialmente, se encontra o conceito de epigênese.
Neste artigo, estudamos a conceituação epistemológica dos termos epigênese e epigenética, o primeiro proposto por Aristóteles e o segundo por Waddington. Temas tão em voga atualmente pela sua relevância no conhecer dos instrumentos que podem explicar diversos fenômenos atrelados às ciências fundadas na biologia.
Abordaremos neste estudo a vertente biopsicossocial, pois, por essa via, temos uma ampla avenida para caminhar, devido às possibilidades doutrinárias e metodológicas que oferece.
A metodologia utilizada foi de natureza qualitativa, crítica, prospectiva para que se produzisse texto que explicitasse nos conceitos de epigênese e epigenética o seu caráter biopsicossocial.
Os temas a serem abordados são os seguintes: 1 – reflexão inicial sobre os conceitos; 2 – a origem da epigênese e da epigenética; 3 – as proposições em epigenética; 4 – a epigenética e o caráter biopsicossocial.
Os resultados a serem buscados passam necessariamente pela reflexão filosófica, pela abordagem e interpretação biológica, psicológica e social dos fenômenos advindos das ciências da vida, sob um olhar que entendemos, tem a característica de ser necessário, além do caráter nomológico próprio da Medicina Pericial.
1.1 REFLEXÃO INICIAL SOBRE OS CONCEITOS
O objetivo central deste artigo está fundado no termo conceito, especificamente, nos conceitos de epigênese e de epigenética. Assim, consideramos as explicações contidas nos conceitos que são correlativos e presentes na reflexão que se possa fazer a respeito deles, por intermédio da epistéme trabalhada pela Filosofia da Linguagem e na Filosofia da Ciência e já delineados desde Aristóteles(1), pois, para o Estagirita, a construção de conceitos é algo que se funda no pensar pragmático, quando se pode constatar o seguinte: quanto mais conceitos sabemos, mais fácil o entender-se e incorporar-se novos elementos conceituais ao nosso entendimento, na visão kantiana do termo entendimento. Ressalte-se aqui que a âncora deste trabalho é a vertente biopsicossocial, devido à amplitude de caminhos doutrinários e metodológicos aí contidos. Podemos afirmar também que a Medicina Pericial é construída sobre a mesma vertente biopsicossocial, o que veremos à frente.
A epigenética é instrumental para o pensamento, como o ensina Waddington(2), para o estudo causal do desenvolvimento; é, portanto, um conceito epistêmico que permite sua aplicação em diversos ramos do conhecimento. É também um meio para se pensar ciência, notadamente aquelas de caráter biológico e, em nosso entendimento, também para as ciências na vertente biopsicossocial.
Dentre os conceitosa serem tratados, temos inicialmente aquele atinente à denominada verdade científica, que aqui é abordada inicialmente sob os significados dos termos latino (veritas) e grego (aletheia). O primeiro, que se apresenta como relato verdadeiro de que algo aconteceu, e o segundo, como algo que é verdadeiro e está presente e, portanto, não é falso. Da fusão conceitual dos dois termos, tem-se a verdade enquanto significado objetivo, ou seja, a conformidade do pensamento com a realidade.
A vertente científica da verdade no âmbito da ciência, em nosso entendimento, é fundada no método científico dos pensadores modernos como Bacon, Whitehead, Popper, Granger, Russel, Tarski, Piaget e ainda no caráter demonstrativo explicitado por Aristóteles(3) nos “Segundos Analíticos” ou “Analíticos Posteriores”, como alguns helenistas os chamam. Há, aqui, a necessidade em abordar-se o conceito de “verdade objetiva” e o devido referencial histórico. Em outra perspectiva, não haveria essa necessidade demonstrativa nem metodológica, se o conceito de verdade fosse considerado “auto evidente”, inclusive sobre a ótica histórica? Veja-se abaixo o que nos ensina Granger(4) quando trata desta possível história e suas referências.
1.2 SOB O OLHAR DA “NÃO HISTÓRIA”
Para Granger(4), a história da ciência seria uma “não história” – veja-se o que diz o filósofo ao usar uma formulação de Jean Cavaillès quando este ensinou sobre a historicidade da ciência ao dizer: “esta história que não é uma história”. Granger, então nos mostra o que é a cientificidade histórica com fundamento na denominada verdade objetiva advinda da ciência: “Entendemos aqui por ‘ciência’ uma obra científica, como produto concreto de um trabalho, isto é, de uma criação de uma relação forma-matéria a partir da percepção mais ou menos distinta de um objeto de pensamento. Tal obra é necessariamente um objeto singular, mas essa singularidade deve ser entendida num sentido bastante amplo”(4)(p. 81).
A historicidade da obra científica sob a ótica dos conceitos, pode ser representada pela lógica de Galeno, fundada na vertente demonstrativa aristotélica, no conceito de homeostase de Claude Bernard, no tratar-se precocemente a doença da Escola de Cós e no conceito de inconsciente freudiano, por exemplo.
O presente tema não foi abordado numa perspectiva de linha do tempo e referentes pessoais históricos, foi abordado na ótica da “não história” referida por Granger.
Granger(4) nos mostra que podem existir três níveis de história em uma obra científica, quais sejam: “a dos eventos, a dos conceitos e a das categorias”. Quando nos atemos aos eventos, Granger assim formula a historicidade: “Os eventos datados e as circunstâncias que compõem a história de uma ciência dependem evidentemente das pessoas dos sábios e dos contextos sociais, nos quais o estudo se ancora numa psicologia, numa psicanálise, numa sociologia, na medida em que essas disciplinas possam dar descrições e explicações científicas. Mas que papel detêm esses contextos para o desenvolvimento dos conteúdos científicos?” […] “Eles podem modificar o tempo de seu desenvolvimento, facilitando ou freando o funcionamento favorável das condições materiais nas quais se desenvolve […]. Os contextos podem ocasionar, por razões de oportunidades econômicas ou bélicas, o incentivo de algumas pesquisas pelo fornecimento de meios apropriados aos pesquisadores”(4)(p. 82).
Granger se remete a Jean Cavaillès quando comenta a história na vertente interna dos conceitos, o que nos leva, por analogia, a Kant(5) quando fala do conceito de tempo enquanto intuição interna. O termo “interno” significa, para nós, a visão biológica; por exemplo, a pré-sinapse.
Ora, na vertente conceitual, a história tem outro perfil, na visão de Granger: “Outro nível seria o da história interna da sucessão dos conceitos. Essa história ‘não é uma história’, como disse Jean Cavaillès, porque ela expressa fundamentalmente um encadeamento racional. A introdução de um conceito é, a propósito, sempre correlativa à de uma teoria, isto é, de um sistema mais ou menos complexo de relações. No mais das vezes, é o resultado da solução de uma dificuldade interna de um sistema anterior. Se o filósofo das ciências é também um historiador, ele o é no sentido de que ele deve interessar-se pelos detalhes da introdução desse conceito novo, e o historiador será então filósofo no sentido de que ele quer compreender o porquê dessa sucessão”(4)(p. 83).
Granger(4) quando analisa a vertente das categorias resultado de conjuntos de conceitos sob uma ideia, no contexto da história da ciência assim relata: “O nível que chamo aqui das categorias dá conta da determinação do objeto fundamental de um conhecimento científico, bem como dos utensílios conceituais decisivos. Por exemplo, objeto de uma mecânica como a variação espaço temporal da posição de um corpo independentemente de toda a qualidade dos movimentos (Galileu, Descartes, Newton); ou na análise da noção de distribuição, que torna legítimas certas pseudofunções e seu tratamento analítico. Ou ainda, por exemplo, o objeto primeiro da genética, como combinatória de elementos de início puramente ideais portadores de caracteres transmissíveis. A constituição de uma categoria é evidentemente correlativa à modificação ou introdução de conceitos”(4)(p. 84).
A conjunção de conceitos correlativos que permitem a formação das categorias e acima referenciado por Granger nos conduz no âmbito deste artigo à epigênese aristotélica e à epigenética de Waddington e suas relações, derivações, sob o olhar da epistemologia, mais ainda, para os efeitos que esta formulação pode propiciar ao estudo epistêmico presente neste artigo.
2. A ORIGEM DA EPIGÊNESE E DA EPIGENÉTICA
2.1 A EPIGÊNESE
O conceito de epigênese criado por Aristóteles(1) para descrever o que se pode chamar de “Princípio do desenvolvimento”, foi fruto da observação que o filósofo fez em uma sequência de ovos de galinha fecundados, nos quais ele observou a mudança paulatina e temporal da evolução, na forma do que é observável. Na mesma época, ele estava discutindo a primazia entre forma e matéria, ou seja, o hilemorfismo, e dizia que a forma antecedia a matéria. Por essa reflexão e pela criação do que ele denominou de “princípios geradores” aos pais, Aristóteles é considerado o fundador da Embriologia.
Piaget(6), quando aborda as relações dos sistemas embriológicos e as funções cognitivas, nos remete a uma breve reflexão sobre a origem do sistema nervoso que ocorre no ectoderma, ou seja, a partir do tecido externo no processo de neurulação e sucessivos desenvolvimentos embrionários. Neste desenvolvimento, percebe-se a crescente atuação do sistema nervoso no ordenamento interno, como, por exemplo, no controle da atividade motora do tubo digestivo, este uma das portas elementares do contato do organismo com o meio, e as devidas respostas orgânicas aos estímulos externos. “Os fatos que devem ser relembrados, e de que convém partir, são os de que em nenhum domínio, o organismo sofre as influências do meio tais quais, mas se mostra, ao contrário, essencialmente ativo em relação a elas. Do ponto de vista físico-químico, o ser vivo não é uma réplica dos corpos que o cercam, pois apresenta uma organização que se conserva ao assimilá-los e esta organização comporta uma autorregulação. Do ponto de vista genético, o genoma não é produto das influências do meio, mas um sistema organizado que fornece suas respostas às tensões do meio e contém suas normas de reação. Do ponto de vista embriológico, o desenvolvimento epigenético implica uma série de trocas, mas com uma direção interna que impõe sua escolha aos alimentos utilizados. Do ponto de vista fisiológico, o sistema das regulações atesta uma atividade contínua que mais uma vez, não sofre as trocas com o meio, mas as canaliza e regula. Do ponto de vista neurológico, o sistema nervoso não se limita a sofrer uma ação coercitiva por parte dos estímulos, mas demonstra atividades espontâneas e não aceita os estímulos senão quando é sensibilizado a eles, isto é, se os assimila ativamente a esquemas prévios de respostas”(6) (p. 44).
As relações com o meio e os sistemas de autorregulação e ordenamento dos seres vivos têm origens de há muito perguntadas, pesquisadas e desde a antiguidade clássica o ser humano com ela se ocupa. Quando se estuda as interações entre os seres vivos e o meio de acordo com os referenciais citados acima por Piaget, pode-se observar e refletir sobre os extensos encadeamentos embasados no que se denomina estrutura na designação piagetiana do termo, que contempla a “totalidade, as transformações e a autorregulação” que permite o movimento e é regulado pelo eixo do tempo. Para se ter melhor avaliação do processo de relações dos seres com o meio onde ele está inserido é necessário retornar-se à visão aristotélica dessas relações.
Para Aristóteles(1), haveria um elemento inicial, algo simples, único, portanto, “princípio” que promoveria a geração de algo mais complexo. Poder-se-ia aqui, enquanto tese, dizer que ele descreveu o RNA auto catalítico, ou melhor, as ribozimas, que são uma molécula de RNA que tem uma estrutura de ácido nucleico associado à enzima. Estas substâncias são moléculas de RNA que atuam como catalisadores, ou seja, diminuem o processo de ativação de uma reação energética e, assim como as enzimas de origem proteica, possuem uma estrutura que se une especificamente a um substrato e que facilita a sua conversão num produto. Este RNA primitivo teve o papel tanto de produzir a proteína quanto de conduzir a informação, além de levar a maturação do RNA, que produzia novos nucleotídeos e desta forma possibilitou segundo se entende, o DNA.
Decorrendo dessas complexas conjunções, a possibilidade das relações subsequentes, portanto e por exemplo a relação genótipo/fenótipo que por fracionamento, repetição, fracionamentos subsequentes, repetições, cópias, traduções e alterações dentro do tempo, deve ter gerado as possibilidades dos organismos vivos iniciais, ou seja, da molécula à célula.
Posto que houvesse o “movimento”, e em havendo o mover-se, este ocorreria no tempo, aqui na vertente linear, ou seja, com as figuras do antecedente e do consequente, daí a celebre definição aristotélica: “o tempo é número da relação anterior posterior” que pode, sob o ponto de vista geométrico, ser representado por um segmento de reta. O tempo teria sido o eixo condutor do processo evolutivo, permitindo a estruturação, a regulação e as transformações que deram início à organização molecular, na sequência à célula e a seguir às estruturas complexas como os órgãos e pôr fim aos seres animados, produzidos por grandes cadeias de interações e reticulados que se comunicavam e transmitiam as informações, em um grande e complexo sistema.
Ao nominar e pensar a forma, a matéria, as causas, o ato e a potência, Aristóteles(3) nos fala do termo “princípio” e da sua indemonstrabilidade, ou seja, de algo primevo, imediato, anterior, origem das demonstrações subsequentes e das causas imediatas. O “Princípio do desenvolvimento” foi estabelecido pelo Estagirita ao observar a forma do embrião evoluir, ter movimento interno, nutrir-se e por consequência crescer na direção da forma e da matéria do semelhante que lhe deu origem. Para o filósofo, a planta gera outra, assim como o animal gera outro que lhe é semelhante.
Há ainda o observar a alteração ordenada, causada, que demonstra ao final que acontece à semelhança com a origem e não sua cópia, ou seja, há uma evolução que forma outra identidade, mantendo, no entanto, as suas origens, portanto a sua herança genética. A noção de permanência dos caracteres da origem e as alterações que ocorrem moduladas pelo tempo levaram a diversas reflexões e proposições e diversos biólogos refletiram e propuseram soluções no que se refere ao que é epigênese.
2.2 A EPIGENÉTICA DERIVADA DA EPIGÊNESE
A partir dos estudos de Waddington(7), desde 1942, o termo aristotélico “epigênese” veio à baila, especialmente nos estudos fundados na Biologia. Assim, o biólogo cunhou o termo “epigenética”, que advinha da epigênese aristotélica, para designar o estudo causal do desenvolvimento. Em sendo causa, será então “princípio”, ou seja, se está diante do que se pode denominar de Princípio do Desenvolvimento, que ordena na genética as interações causais entre os genes e seus consequentes que possibilitam substância ao fenótipo.
A epigenética de Waddington deve ser referenciada pelo estudo causal do desenvolvimento e pelos diversos significados ao termo atribuídos como consequência do conceito de “canalização” da lavra de Waddington, e que teve como fundamento a teoria da informação de Shannon e Weaver(8), embora Waddington demonstre a inadequação das propostas desta teoria ao mundo dos fenômenos biológicos por causa da muito maior complexidade deste. Na significação inicial, ou seja, estudo causal do desenvolvimento, especialmente na díade genótipo/fenótipo, quando as interações gênicas e seus derivados dão caráter ao fenótipo e se tenta olhar o fenótipo por um ângulo matemático, Waddington(7) deixa claro que estamos diante de uma função que depende do tempo, aqui o tempo linear aristotélico: “[…] a função deve implicar algo além das três dimensões do espaço, já que nosso interesse se situa além de uma simples geometria do organismo. Necessitamos de um fato, uma variável para cada constituinte do sistema, químico ou geométrico, que se encontra implicado nas questões que se consideram. Apresenta-se aqui por tais razões uma função que contém inúmeras variáveis. Na ordem da representação geométrica temos que recorrer a um espaço fase multidimensional para acomodar todas as variáveis da constituição e dentro deste espaço o fenótipo estará representado por uma certa figura que começará no ponto onde se representa a constituição do ovócito e que se estenderá ao longo do eixo da variável tempo” (p. 27: tradução livre)
Ensina Aristóteles(1) que só pode haver a ocorrência de mudança onde há substância, ou seja, existe algo que pode ser mudado, e a mudança acontece pelo movimento e está contida no tempo. Ora, se o genótipo e seus produtos dão o ser ao fenótipo como nos ensina Waddington, se o fenótipo é referido como um complexo sintético que interage e que muda com o tempo, o termo epigênese e seu derivado epigenética se aplicam e o Princípio do Desenvolvimento aristotélico fica estabelecido, provado e constitui fundamento do pensar e conhecer a ciência, especialmente aquelas de caráter biológico.
Para que se possa melhor fundamentar, sob a ótica epistemológica da Biologia Moderna, a epigênese aristotélica e a epigenética de Waddington, observe-se o seguinte: a molécula do DNA é uma dupla hélice estável e a molécula do RNA é uma única hélice dotada de peculiar plasticidade, ou seja, as mudanças gênicas têm aqui o seu território ideal, assim como as mudanças devidas ao meio ambiente, ou seja, as alterações exógenas. No denominado mundo primitivo, há cerca de 4 bilhões de anos atrás, as ribozimas que se autorreplicavam podem ter dado início ao processo evolutivo da matéria viva, bem como aos seres animados (aqui na visão cartesiana do termo “animado”).
As ribozimas foram descobertas em 1981, através dos trabalhos de Thomas Cech e Sidney Altman, descoberta essa que os levou ao Nobel de Química em 1989(9). O que se discutia nessa época era o papel do DNA, das enzimas e do RNA. Ora, as essenciais ações básicas para a existência da vida são a de armazenar e transmitir a informação genética e promover a catálise necessária para as reações químicas dos denominados processos vitais. Assim, teríamos os ácidos nucléicos que guardariam e transmitiriam as informações e as proteínas para a catálise; e aqui uma questão: o que viria primeiro, as proteínas ou os ácidos nucléicos? Essa questão foi resolvida quando os pesquisadores acima citados revelaram que um ácido nucléico, o RNA primitivo, não era só um mensageiro da informação gênica, pois ele podia dividir-se e tinha ainda a função catalisadora, ou seja, se multiplicava sem a ação da proteína e à frente agia dentro da célula em suas reações químicas especialmente nos ribossomos, catalisados por ele.
Pergunto: seria o RNA ou a Ribozima inicial, algo simples, único, primevo, que promoveria o aparecimento de algo mais complexo a partir de algo simples, que suscitaria a forma e a matéria, como está definido no hilemorfismo aristotélico?
A partir desse trabalho de Cech e Altman(9), pode-se sugerir que a informação genética inicial advém do RNA e não do DNA. Nesse mundo primevo, o RNA autocatalítico ou a Ribozima tanto transmitia a informação quanto catalisava as reações químicas e seria atualmente, em nosso entendimento e sob a ótica da bioquímica, o Princípio do Desenvolvimento pensado por Aristóteles, ou seja, a sua Epigênese.
O termo epigênese enquanto conceito foi alterado ao longo da história, desde a antiguidade clássica até os dias presentes. O termo epigenética criado por Waddington, em 1942(7), também foi alterado e hoje é designado como área da biologia que estuda as transformações do fenótipo que não alteram a estrutura do DNA, porém são transmissíveis e herdados pelas gerações seguintes, no entanto, com a possibilidade da reversibilidade. Os termos epigênese e epigenética estão atualmente em forte evidência, nas diversas áreas do conhecimento, especialmente nos temas que têm como base a biologia, a genética, a medicina, a psicologia. Há milhares de trabalhos que abordam esses temas na ótica ontogênica e epistêmica, além das abordagens eminentemente pragmáticas, como aquelas que ocorrem no âmbito da química, da física, da físico-química, da medicina, da psicologia e ainda das ciências da informação.
3. AS PROPOSIÇÕES EM EPIGENÉTICA
3.1 A EPIGENÉTICA NA VERTENTE PSICOLÓGICA
A epigenética na sua formulação inicial definida por Waddington(7), já dissemos, era o estudo causal do desenvolvimento. Hoje, e sob enfoque epistêmico, é área da biologia que estuda principalmente as denominadas modificações genéticas que ocorrem desde a fecundação e se mantém durante a vida. É processo herdável que pode ser reversível, porque não altera a estrutura do DNA e conduzido pelos seguintes métodos: metilação do DNA, modificação nas histonas e a denominada expressão do RNA não codificante. A metilação do DNA é o processo mais conhecido e muitas pesquisas abordam a epigenética sob este aspecto. Veremos a seguir exemplos dessas pesquisas em diversas óticas, quais sejam a fisiológica, a decorrente de agentes externos, a patológica, a comportamental, a bioquímica e a genética, que mostram a epigenética como um importante instrumental do pensar humano, aqui no sentido definido por Waddington(7).
Nos estudos de Nishioka(10) sobre esquizofrenia e as alterações epigenéticas para explicar a gênese da doença através da metilação do DNA e modificações das histonas, foram vistas interações entre fatores genéticos e ambientais, a depender de estudos ulteriores. Veja-se o que diz Nishioka: “A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica grave que afeta cerca de 1% da população mundial, com efeitos significativos nos pacientes e na sociedade. Estudos genéticos identificaram vários genes de risco, candidatos ou regiões genômicas para esquizofrenia, e estudos epidemiológicos revelaram vários fatores de risco ambientais. No entanto, a etiologia da esquizofrenia ainda permanece amplamente desconhecida. Mecanismos epigenéticos, como metilação do DNA e modificações de histonas, podem explicar a interação entre fatores genéticos e ambientais em nível molecular, e evidências acumuladas sugerem que tais alterações epigenéticas estão envolvidas na fisiopatologia da esquizofrenia. No entanto, estudos de replicação para validar achados anteriores e investigações da causalidade das alterações epigenéticas na esquizofrenia são necessários”.
As pesquisas nessa área das psicopatias continuam sob o foco da epigenética, tanto no entendimento da normalidade psíquica quanto na visão da patologia e nas modulações neuro-hormonais. As interações entre os fatores genéticos e ambientais contidos neste trabalho nos levam à implicação biológica que ajuda a explicar os mecanismos acima aludidos de origem epigenética e a causalidade ali implicadas. O termo implicação biológica é proposto pelo autor em artigo a ser publicado sob o título “A filosofia do tertius de Aristóteles como condutora a um novo conceito de implicação no âmbito do organismo que estaria entre a Lógica-Matemática e as significações humanas”. Outros estudos revelam melhor o papel dos neuro-hormônios como os de Maud et al(10).
Maud et al(10) apresentaram estudo sobre o papel da ocitocina nos comportamentos sociais de populações humanas e as ações dos instrumentos epigenéticos como a metilação do DNA, em ampla revisão sistemática: “O neuropeptídeo ocitocina desempenha um papel central no parto, na ligação mãe-bebê e em ampla gama de comportamentos sociais relacionados em mamíferos. Mais recentemente, o interesse se estendeu à programação epigenética de genes envolvidos na neurotransmissão ocitocinérgica. Esta revisão reúne descobertas iniciais em um campo de pesquisa em rápido desenvolvimento, examinando as relações entre a metilação do DNA (DNAm) do gene do receptor da ocitocina (OXTR) e o comportamento social e emocional em populações humanas. Consistente com um campo emergente de investigação, ainda não há evidências suficientes para tirar conclusões sobre o papel do gene receptor da ocitocina na metilação do DNA, no comportamento social e emocional humano. No entanto, tomados em conjunto, os resultados apontam para aumento do DNAm de OXTR em deficiências gerais no funcionamento social, cognitivo e emocional, e diminuição do DNAm de OXTR em padrões específicos de comprometimento relacionados a transtornos de humor e ansiedade (mas não em todos). O progresso futuro neste campo seria aprimorado por projetos com potência adequada, maior precisão fenotípica e melhorias metodológicas, incluindo estudos longitudinais com vários pontos de tempo para facilitar inferência causal”(11)(tradução livre).
As atividades transmissoras neuro-hormonais reguladas por mecanismo e programações epigenéticos nos mostram a necessária busca dos mecanismos inferenciais que aqui entendemos ser a implicação biológica, pois esta, ao explicar os encadeamentos possíveis e sua necessidade, ajudam a explicar o futuro da pesquisa neste campo.
Também podem ser explicados nas situações de medo. Lancaster et al(12), em estudo sobre a ação da ocitocina associada à relação entre a atividade da amígdala, a metilação do DNA e as respostas relacionadas ao medo e à metilação do receptor da ocitocina revela: “A ocitocina possui propriedades ansiolíticas cujos mecanismos de ação ainda estão sendo identificados. A metilação do DNA na região promotora do gene receptor de ocitocina, uma modificação epigenética que supostamente reflete uma redução do sistema de ocitocina, foi previamente implicada na regulação das respostas relacionadas ao medo através da amígdala. Neste estudo, tentamos caracterizar a relação entre metilação do receptor da ocitocina (OXTR) e ansiogênese usando dois endo-fenótipos distintos: atividade do sistema nervoso autônomo e estrutura cerebral cortical. Em 79 participantes, descobrimos que o aumento da metilação de OXTR está associado ao tônus parassimpático atenuado em repouso, medido por meio da variabilidade da frequência cardíaca de alta frequência. Além disso, descobrimos que essa relação é mediada pela morfologia do cérebro, de modo que a metilação de OXTR está associada ao aumento da massa cinzenta da amígdala central que, por sua vez, está associada à diminuição do tônus parassimpático. Esses resultados aumentam nossa compreensão da regulação epigenética do sistema de ocitocina humana e seu papel na ansiogênese”(12)(tradução livre).
O trabalho de Lancaster, além dos mecanismos epigenéticos referidos, faz a devida referência ao processo de implicação que entendemos ser a implicação biológica, pois contempla a necessidade, o encadeamento de funções e o que é estrutural e não o universal. As ações epigenéticas permeiam as explicações dos eventos biológicos como nos trabalhos de Mamrut et al(13), que pretendem explicar que o principal mecanismo epigenético é a metilação do DNA, pois este regula a transcrição gênica e por isso nos receptores da ocitocina a metilação associada às ações de esteroides produzem diversos efeitos. Assim nos explicam Mamrut et al(13): “A ocitocina é um hormônio peptídico, bem conhecido por seu papel no trabalho de parto e na amamentação e, mais recentemente, por seu envolvimento no comportamento social dos mamíferos. Todas as ações centrais e periféricas da ocitocina são mediadas pelo receptor da ocitocina, que é o produto de um único gene. A transcrição do receptor de ocitocina está sujeita à regulação por hormônios esteroides gonadais e é profundamente elevada no útero e nas glândulas mamarias durante o parto. A metilação do DNA é o principal mecanismo epigenético que regula a transcrição do gene e tem sido associada à redução da expressão do receptor de ocitocina em indivíduos com autismo. Aqui, geramos a hipótese de que a transcrição do receptor de ocitocina é regulada pela metilação do DNA de sítios específicos em seu promotor, de maneira específica para o tecido. As linhas celulares GT1-7 derivadas do hipotálamo e 4T1 derivadas da mama exibiram correlações negativas entre a transcrição do receptor de ocitocina e a metilação do promotor do gene, e a desmetilação causou um aumento significativo da transcrição do receptor de ocitocina em células 4T1. Usando um ensaio de gene repórter, mostramos que a metilação de locais específicos no promotor do gene, incluindo um elemento de resposta ao estrogênio, inibe significativamente a transcrição. Além disso, verificou-se que a metilação do promotor do receptor de ocitocina está diferencialmente correlacionada com a expressão do receptor de ocitocina nas glândulas mamárias e no útero de camundongos virgens e pós-parto, sugerindo que desempenha um papel distinto na transcrição do receptor de ocitocina entre os tecidos e sob diferentes condições fisiológicas. Juntos, esses resultados suportam a hipótese de que a expressão do gene do receptor de ocitocina de camundongo é epigeneticamente regulada pela metilação do DNA de seu promotor”.
Pode-se observar, nos estudos de Nishioka et al(10), Maud et al(11), Lancaster et al(12) e Mamrut et al(13), que a epigenética é instrumental do pensamento, como preconizava Waddington(2). Nesses estudos, há sinais, tendências no sentido aristotélico do termo, que evidenciam a característica epistêmica expansiva da epigenética como instrumento do pensar. Tal instrumentação é presente inclusive na situação de variável, pois, mesmo nesta condição, há uma canalização da informação e o consequente caminho creódico, ou seja, o caminho necessário que levará a resultado esperado, na maioria das vezes, como se pode estabelecer com o fundamento na implicação biológica que ordena os processos acima aludidos.
3.2 A EPIGENÉTICA SOB O OLHAR DA PATOLOGIA
A epigenética enquanto conjunto de métodos e instrumentação biológica que regula a estrutura gênica e ainda explica aspectos da hereditariedade sem modificação do DNA, porém sofrendo influência do meio através das interações do RNA, em circunstâncias onde está presente a reversibilidade por agente interno ou externo, necessita de uma reflexão quando se está diante da patologia. A doença em diversos quadros clínicos tem substrato na fisiologia, quando esta tem o caminho invertido ou significativamente alterado. As variáveis que enriquecem o raciocínio matemático, no mundo da biologia normalmente conduzem à doença e ainda ao perecimento. Pode-se fundar essas reflexões sob o olhar da implicação biológica que ordena essa complexidade.
Waggoner(14), em estudo do início deste século, mostra-nos a fisiologia que ordena os mecanismos epigenéticos, como, por exemplo, o silenciamento gênico associado ao RNA e o paradoxo atrelado à organização epigenética que pode produzir a doença quando há modificações importantes na estrutura regulatória epigênica: “A modificação epigenética de todo o genoma desempenha um papel fundamental na regulação da expressão gênica por meio da estrutura e estabilidade da cromatina, regulação gênica específica para tecido e desenvolvimento embrionário e impressão genômica. Os mecanismos incluem a remodelação da cromatina por meio da modificação de histonas e metilação do DNA, silenciamento de genes associados a RNA e inativação de cromossomos e impressão genômica. Esses mecanismos epigenéticos fornecem uma camada adicional de controle transcricional da expressão gênica, além daqueles associados à variação na sequência do DNA. A variação na regulação epigenética ajuda a explicar a diversidade genética, mas mudanças significativas na regulação epigenética podem produzir doenças” (tradução livre).
A epigenética, através dos mecanismos definidos de metilação do DNA, transformações das histonas e a expressão de RNA não codificante, mostra que as variações nos processos de regulação e de modulação, processos estes com certeza epigenéticos, tenderiam a explicar que as mudanças no mecanismo de regulação podem produzir doenças, eventos explicáveis pela implicação biológica.
Quando se buscam respostas às alterações epigenéticas que podem explicar patologias graves e a busca de soluções, podemos nos deparar com a situação enfrentada por Link e Kupcinskas(15), quando argumentam sobre a fisiopatologia do câncer gástrico associado aos microRNAs que, através de mecanismos epigenéticos, participam da denominada cascata de fatores que desordenam o crescimento celular e levam a instalação da neoplasia. A procura de marcadores tumorais que propiciem o diagnóstico precoce do câncer gástrico, se torna premente e é também referenciada por Link e Kupcinskas: “Biomarcadores diagnósticos não invasivos podem contribuir para a identificação precoce do câncer gástrico e melhorar o manejo clínico. Infelizmente, nenhum biomarcador de triagem sensível e específico ainda está disponível e as abordagens atualmente disponíveis são limitadas pela natureza da doença. O câncer gástrico é uma doença heterogênea com vários eventos genéticos e epigenéticos distintos que ocorrem durante a cascata multifatorial da carcinogênese. MicroRNAs são comumente desregulados na mucosa gástrica durante a infecção por Helicobacter pylori e de forma gradual desde a gastrite crônica, passando por condições pré-neoplásicas, como gastrite atrófica e metaplasia intestinal, até displasia precoce e câncer invasivo. A identificação de micro RNAs no sangue em 2008 levou a um grande interesse em biomarcadores diagnósticos baseados em micro RNAs” (tradução livre).
Muito se aprende sobre a epistemologia da epigenética sob o olhar da patologia, pois, devido a entropia presente no desordenamento estrutural da matéria aí presente, pode-se perceber que, em muitos casos, as vias, ou seja, os caminhos por onde transitam as informações num processo patológico tem similaridade com a fisiologia da normalidade.
A desregulação que chega ao que se denomina de “cascata multifatorial” da carcinogênese, previamente instalada em quadros de gastrite por agente externo como no caso o Helicobacter pylori, nos leva a pensar sobre a causalidade e a estrutura aí envolvida e por consequência a explicação que vem através da implicação biológica aí contida.
Há duas décadas, Jones(16) publicou trabalho sobre a metilação das denominadas ilhas CpG como parte de um mecanismo epigenético que produz silenciamentos de atividades gênicas, processo este que faz parte do ordenamento de transmissão da informação epigenética, ou seja, um trânsito dentro da necessidade e não da universalidade, mas que é explicável pela implicação biológica que permite entender os encadeamentos e as possibilidades. “A metilação das ilhas CpG (citosina/guanina) é frequentemente equiparada à inatividade transcricional e há evidências contundentes de que este é o caso de ilhas localizadas em promotores de genes. Essa metilação é provavelmente parte de um mecanismo para silenciar permanentemente as atividades dos genes, incluindo aqueles no cromossomo X inativo. Nem todas as ilhas CpG e locais de metilação estão localizados em promotores conhecidos; vários genes específicos de tecido e impressos tem ilhas CpG localizadas a distâncias consideráveis a jusante dos locais de iniciação da transcrição, e muitos genes têm promotores múltiplos. A metilação das ilhas CpG a jusante do início da transcrição não bloqueia o alongamento em células de mamíferos. Isso deu origem a um paradoxo interessante em que a metilação na região transcrita é frequentemente correlacionada com a expressão, em contraste com a correlação inversa observada no local da iniciação da transcrição. O paradoxo da metilação pode ser resolvido se houver a hipótese de que a transcrição através de uma ilha CpG facilita nova metilação” (16)(tradução livre).
O processamento da informação no ambiente genético e epigenético como o referenciado acima é de natureza complexa, ou seja, envolve números expressivos e qualidades gerais e específicas que tornam difícil sua explicação e a consequente busca de soluções. Para Waddington(2), “ninguém, entretanto, conseguiu ainda dar uma definição de ‘complexidade’ com profundidade suficiente para permitir a medida exata da complexidade de um sistema dado” (p. 29).
É claro que a medida de alguma coisa leva necessariamente aos seus elementos e aos modos de ação deles, além das diferenças entre os elementos ali contidos. Os mecanismos epigenéticos, da mesma forma, impõem na sua pesquisa e compreensão o saber-se seus funcionamentos e funções e ainda suas relações e possibilidades correlativas. Veja-se o trabalho de Bure et Nemtsova(17) sobre as conexões epigenéticas sob a ótica da carcinogênese: “Apesar do progresso recente, o câncer gástrico continua sendo um dos cânceres mais comuns e com uma alta taxa de mortalidade em todo o mundo. O padrão de metilação aberrante do DNA e a desregulação da expressão do RNA não codificador aparecem nos estágios iniciais do câncer gástrico. Numerosas investigações confirmaram seu papel significativo na gênese deste tumor e seu alto potencial como biomarcadores diagnósticos e prognósticos. Atualmente, está claro que esses reguladores epigenéticos não funcionam sozinhos, mas interagem entre si, gerando rede complexa”(tradução livre).
As conexões e implicações biológicas que mostram a patologia são oriundas de processos genéticos e epigenéticos presentes na estrutura orgânica, daí poder-se observar evidências e explicar suas origens e consequentes possibilidades de tratamento e de novas pesquisas, que possibilitem ver a ação de agentes externos como estresse social e ambiental.
Argentieri et al(18), em revisão sistemática, avaliaram 32 estudos sobre a metilação do DNA e glicocorticoides para ter uma perspectiva da ação deste instrumento epigenético em diversas patologias. Veja-se o resultado desse trabalho: “Os genes do eixo HPA implicados na regulação dos glicocorticoides desempenham um papel importante na regulação do impacto fisiológico do estresse social e ambiental e se tornaram um ponto focal para investigar um papel da regulação dos glicocorticoides na etiologia da doença. Realizamos uma revisão sistemática para avaliar criticamente toda a gama de associações clínicas que foram relatadas em relação à metilação do DNA de CRH, CRH-R1/2, CRH-BP, AVP, POMC, ACTH, ACTH-R, NR3C1, FKBP5, e genes HSD11β1/2, em adultos. Um total de 32 estudos foram identificados. Há evidências prospectivas para uma associação entre metilação HSD11β2 e hipertensão, e evidências funcionais de uma associação entre metilação NR3C1 e câncer do pulmão de células pequenas (SCLC) e câncer de mama. Fortes associações foram relatadas entre a metilação de FKBP5 e NR3C1 e PTSD, e a doença de Alzheimer. Associações mistas entre metilação NR3C1 e resultados de saúde mental foram relatadas de acordo com diferentes exposições sociais e ambientais, e de acordo com as várias regiões genéticas investigadas. Concluímos destacando os principais desafios e direções de pesquisas futuras que precisarão ser abordadas a fim de desenvolver biomarcadores prognósticos clinicamente significativos” (tradução livre).
Os reguladores epigenéticos, como a metilação do DNA, as modificações nas histonas e a expressão do RNA não codificante, podem agir em conjunto ou não e contemplarem a predominância de um sobre o outro, daí termos rede complexa e verdadeiros reticulados que interagem e se conectam. Essas conexões constroem cenários, realidades, alteram circunstâncias e assim se pode explicar a realidade atrelada ao fenômeno epigenético. O fenômeno é muito próximo da singularidade, parafraseando Kant(5), “fenômeno é a unidade mais elementar da inteligência.”
Li et al(19), em trabalho recente de revisão sistemática, avaliam duas vertentes da epigenética, que são a modificação e o desenvolvimento, no caso concreto, uma regulação anterior a processo transcritivo que envolve modificações nas histonas que salvaguardam células-tronco. Vejamos esta revisão sistemática: “O desenvolvimento é um evento dependente da regulação epigenética. Como um regulador pré-transcricional; observou-se recentemente que modificações nas histonas bivalentes estão envolvidas no desenvolvimento. Acredita-se que a metilação das histonas é potencialmente responsável pela determinação e diferenciação do destino celular. A existência sincrônica de marcas de histonas funcionalmente opostas na sequência de início da transcrição (TSS) é definida como ‘Bivalência’, que marca principalmente genes relacionados ao desenvolvimento. H3K4me3 e H3K27me3, as metilações de histonas proeminentes de bivalência, estão implicadas na ativação transcricional e repressão transcricional, respectivamente. O delicado equilíbrio entre H3K4me3 e H3K27me3 produz diversas arquiteturas de cromatina, resultando em diferentes estados de transcrição de genes que promovem direção: pronto, ativado ou reprimido. As modificações de histonas bivalentes são consideradas como responsáveis pelo estabelecimento de genes para ativação durante o comprometimento de linhagem por H3K4me3 e reprimem genes de controle de linhagem para manter a pluripotência por H3K27me3. Resumidamente, a bivalência nas células tronco mantém a haste por meio de genes relevante para diferenciação dos seus efeitos. Depois de receber os sinais de desenvolvimento. O equilíbrio entre a ‘ativação do gene’ e a ‘repressão do gene’ é quebrado, o que muda o estado de transcrição dos genes de efeito ‘suspenso’ para ativar ou desativar o efeito, iniciando assim procedimentos de diferenciação irreversíveis e espontâneos. As modificações nas histonas bivalentes e os complexos de histonas associados salvaguardam a diferenciação adequada e robusta das células-tronco, desempenhando assim um papel essencial no desenvolvimento” (tradução livre).
O equilíbrio epigenético entre ativação e repressão gênica faz parte da normalidade e pode permitir alterações que levem à patologia e isso já o vimos em textos acima. É fundamental compreender estes mecanismos à luz da implicação biológica pelo seu atributo de necessária e de poder explicar os encadeamentos funcionais, saber-se que se está em amplo processo de descobertas e, por isso a epigenética é instrumental para a observação do fenômeno biológico e para sua lógica.
A observação fenomênica deve levar a reflexões de eventos com a mesma origem e que tem interpretações diversas, como por exemplo, a atividade muscular que promove a mobilidade e tem muitas nuances. Há grandes diferenças entre o simples caminhar e praticar ginástica artística ou olímpica ou o caminhar-se sobre uma corda e assim por diante. Essas reflexões tanto podem estabelecer as conexões indutivas e nos levarem ao conceito de probabilidade definido por Costa(20), ou melhor ainda, ao conceito de verossimilhança, portanto, a relatividade, aplicável ao fenômeno biológico pode também, pela via dedutiva, especificar melhor detalhe, a nuance ou ainda um determinado sinal patognomônico, e consequentemente ver a realidade observável. Pode-se perceber que os vínculos causais citados acima têm as características da implicação biológica, dentro dos processos epigenéticos ali explicados.
A via epigenética da explicação fenomênica pode, em muitas circunstâncias, proporcionar melhor avaliação de cenários onde está presente o caráter biopsicossocial que é trabalhado neste artigo.
4. A EPIGENÉTICA E O CARÁTER BIOPSICOSSOCIAL
4.1 A VISÃO EPISTÊMICA E BIOLÓGICA
A epigenética é o estudo causal do desenvolvimento, segundo a definição de Waddington(7). Neste definir, ele apontou o que poderiam ser seus caminhos; caminhos estes chamados por ele de “creodos”, ou melhor, caminhos necessários que conduziriam à informação, à regulação e à produção substancial no mundo complexo das ciências da vida. Entendemos que a genética, evidentemente, está contida no que se denomina de ciências da vida; ciências do homem, aqui na visão grangeriana do termo e nas ciências da empiria também no sentido grangeriano do termo. As vivências ocorridas nas ciências da empiria têm na opinião de Granger(21) aspectos que devemos visitar: “A ciência existe de fato; a dificuldade preliminar mais paradoxal da epistemologia consiste em captá-la como tal, sem a substituir por uma imagem hipostasiada. Portanto, é o movimento científico do pensamento que constitui o objeto do nosso estudo; não é o sistema de uma ciência implicitamente considerada como acabada; nem são de resto, as obras particulares do espírito contemporâneo” (p. 22).
O caráter biopsicossocial dos fundamentos epigenéticos está apontado nos textos acima. Resta agora o explicitar-se o porquê e a causa respectiva deste caráter. É essencial ancorar-se estes fundamentos e deixá-los claros e distintos como ensinava Descartes(22). A epigenética foi definida pelo conceito elaborado por Waddington, evoluiu e se transformou em área de atuação da Biologia; e em consequência disso é também instrumento para se pensar o fenômeno biológico, assim como o de diversas ciências. O próprio autor, em 1979(2), já explicava o que ele denominou de “paisagens epigenéticas”, ampliando assim não só o conceito, mas um conjunto de conceitos, ou seja, categorias do pensar a partir do conceito inicial. Vejamos quais os caracteres epigenéticos elementares no dizer de Waddington(7): “A epigenética tem duas vertentes principais: o estudo das trocas na composição celular (diferenciação celular ou histogênese) e das trocas na forma geométrica (morfogênese). Até onde podemos especificar quais são os processos elementares a que se reduziriam os casos mais complexos destes fenômenos? Acerca da morfogênese, creio eu, podemos dizer muito pouco. Na base da sequência de causas tem que haver processos tais como os seguintes: a determinação da estrutura terciária das proteínas pela natureza de sua sequência primária de aminoácidos e a associação de macromoléculas, frequentemente por ligações mais fracas e possivelmente às vezes com moléculas simples fazendo as ligações, tal como as encontramos nos colágenos estriados e fibrilas de miosina […]” (tradução livre).
A gênese histológica e a morfogênese que são fundamentos da estrutura celular, sob a ótica da epigenética, descreve os caminhos de origem nos ácidos nucléicos nas heranças contidas nos mecanismos da epigenética. Waddington(7) já descrevia que o processo elementar básico seria o silenciamento parcial ou total de estruturas gênicas que permitiam assim a substituição da herança pela nova identidade advinda de nova estrutura nucléica ou pela epigênese. Waddington(7) assim nos ensina: “[…] tenho argumentado que o processo elementar de diferenciação celular em organismos superiores implica em grupos de genes independentes, isto ocorre em três fases: aquisição de competências, onde baterias de genes ficam prontas para outra fase, determinação onde uma destas baterias dominam a futura história da célula e a ativação das proteínas que estruturam os genes a serem produzidos (p. 30).
Pode-se ver a complexa rede de informações e estrutura substancial que ordena o fenômeno biológico e as inúmeras variáveis aí contidas, como afirmamos acima, variáveis que enriquecem a abstração matemática; quando existentes no mundo biológico tanto podem ser parte da normalidade, quando em excesso ou de forma aberrante levar a processo entrópico e à doença. Alterações no ambiente social também foram abordadas no que, já mencionamos, Waddington(7) chamou-a de epigenética.
4.2 A visão epistêmica e psicossocial
O processo evolutivo é fundamento do pensar científico, pela via indutiva e, ou, dedutiva, pode-se tanto gerar novos conhecimentos pela indução quanto consolidá-los pela dedução. Na vertente social, ou seja, diante do fenômeno social, podemos observá-lo, avaliá-lo, ver suas representações e tomar conhecimento com fundamento científico, nas denominadas ciências sociais. O termo sociologia foi criado por Auguste Comte, que ele tratou com o nome de “Física Social”. Tinha o filósofo o objetivo de conferir à sociologia o mesmo rigor científico que aquele aplicado à física. Bréhier(23), em 1956, assim relata o entendimento de Comte sobre a sociologia como uma física social: “Segundo Comte, a ciência social, inserida no conjunto das outras ciências, deve proporcionar um bloco de crenças indispensáveis para a organização social. […] O espírito científico, sem a sociologia, seria puramente crítico e negativo, e o estudo dos fatos sociais, não apoiado nas demais ciências, estaria cheio de afirmações arbitrárias; por isso, graças a união destes temas, o problema da reorganização social, erroneamente avaliado pelas escolas tradicionalistas, poderá agora ser resolvido. Comte apoia também, com sentido totalmente novo, o progresso social sobre o progresso das ciências; pois tal fórmula significava no século 18 o aumento da felicidade da maioria pela difusão da razão, pois, para Comte significava o aumento da solidez das instituições sociais pelo complemento sociológico dado às ciências; trata-se no primeiro caso de um progresso que assegura ao homem mais poder sobre a natureza; no segundo, de uma troca que proporcione uma maior segurança nas instituições sociais” (p. 460, tradução livre).
O progresso social sustentado no progresso das ciências na visão comtiana vem da filosofia positiva criada por Comte e referenciada no texto acima. O tratar o fato social com a métrica e metodologia com que se tratam as ciências exatas trouxe o caráter objetivo e pragmático à filosofia e se transformou com o tempo em ideologia com todo o voluntarismo que lhe é concernente. A via epistêmica e epigenética do entendimento nos fatos sociais nos leva a contemplar o que Waddington(2) chamou de “Paisagem epigenética da sociedade Humana”: “O que se poderia entender por estabilizar ou controlar a situação humana no mundo de hoje ou de amanhã? O tipo de comportamento dos sistemas progressivos que acabamos de discutir – uma tendência de prosseguir firmemente em um pequeno número de direções alternativas – encontra-se não apenas em sistemas materiais, mas também nos psicológicos e culturais. Christopher Zeeman usou esta terminologia para descrever a maneira pela qual muitos animais passam subitamente de um comportamento a outro, digamos entre agressão e medo; as vezes é um fator mínimo que decide se um cão se comporta dentro do creodo de ataque e morde, ou no creodo de susto e foge. Outros estudiosos do comportamento animal descreveram fenômenos semelhantes, tal como o instante decisivo quando o macho e a fêmea decidem se lutam ou se acasalam; estes autores, na maioria, ainda não usam a linguagem dos creodos e catástrofes aqui descrita, mas falam em termos mais particulares e específicos. No mundo de hoje, muita gente receia que a situação esteja ficando fora de controle e possa disparar, lançando-nos ao caos. A maioria das discussões da estabilização e controle das situações humanas, no entanto é, em termos de medidas quantitativas, simples” (p. 114).
Há circunstâncias epistemológicas que fazem relações entre as paisagens epigenéticas, citadas por Waddington, da sociedade humana sob o olhar aberto do fenômeno biológico e aqueles descritos por Gilberto Freyre(24) em texto de seu livro Sociologia da Medicina, onde ele aborda o doente e seus antecedentes socioculturais, fazendo a ponte entre a visão singular e a visão plural do viver em sociedade e sofrer a influência do meio. O texto mostra ainda a influência do meio sobre as sintomatologias apresentadas pelo indivíduo da seguinte forma: “Se for correto que o indivíduo, à medida que se liberta do que nele é apenas biológico, torna-se mais dependente do grupo de que se faz sociologicamente membro e, sobretudo, da cultura de que se torna participante mais ou menos ativo sob a forma de pessoa, compreende-se que a sua situação de pessoa, isto é, de indivíduo, além de socializado, aculturado, absorva a sua condição de indivíduo biológico, obrigando-o a adaptar-se a uma série de funções que, sendo ainda biológicas, já são principalmente socioculturais. Daí o indivíduo doente apresentar-se, cada vez mais, ao médico moderno, como vítima de distúrbios que, parecendo só orgânicos, são quase sempre consequência do que, em sociologia da medicina, já se considera um passado em três dimensões: a física, a social, a cultural. De cada uma dessas dimensões, pode vir o chamado fator precipitante da doença, sem que os demais fatores devam ser desprezados, tal sua provável importância sob a forma de fatores contribuintes”(24) (p. 113).
Os fatores precipitantes e contribuintes de síndromes, doenças e fenômenos sociais, por exemplo, sintomas similares a simples resfriados, que se transformam sob a égide do tempo em patologias mais graves, ou seja, pela janela viral, pode acontecer a agregação de bactérias ou grupos de bactérias que levam à infecção viral inicial para as pneumonias bacterianas; o estresse oriundo do trabalho, que promove quadro clínico de ansiedade insuportável; as crises sociais, que geram ambientes tóxicos à convivência adequada, podem ser produzidos por fator epigenético comum, como a metilação do DNA associado ou não, a liberações hormonais aberrantes. Uma metilação do DNA pode silenciar, ou seja, inibir transcrições de forma inadequada de uma sequência gênica que controla a imunidade; pode, associada a liberações neuro-hormonais impróprias, produzir dominâncias neuro-hormonais que induzem o estresse e a evolução ou o aparecimento de doenças. É bom ressaltar que a observação de fatores precipitantes, as ações decorrentes de condicionantes genéticos e dos instrumentos epigenéticos permitem fazer-se um estudo adequado, embora relativo, ou seja, probabilístico da causa e do porquê de cada etapa do fenômeno biológico.
Por analogia, pode-se estender aos fenômenos sociais fatores precipitantes e condicionantes que podem propiciar um desordenamento entrópico do tecido social. Waddington(2), na sua avaliação de uma paisagem epigenética, mostra-nos: “[…] aponta-se o fato de os números populacionais, o consumo de energia, etc., crescerem com o tempo de acordo com uma lei exponencial; representando-as contra o tempo, vê-se uma curva em *J. A introdução de algum sistema de realimentação negativa converteria a curva ascendente em J em curva em forma de *S. Devemos observar, de início, que nos confrontamos com curvas em J não apenas ao tratar de populações, consumo de energia, etc., mas também das suas taxas de crescimento. Lidamos não apenas com velocidades exponenciais, mas com exponenciais aceleradas. Temos de tratar não com a estabilização e/ou controle de coisas, mas de processos; com homeorrese e não homeostase. Também nos achamos em uma fase de diversificação ou diferenciação crescente. Enquanto, décadas atrás, a humanidade podia ser classificada em operários, funcionários, profissionais liberais e aristocracia ou plutocracia, hoje em dia existe uma diversidade muito mais rica de estilos devida e identificações de classe. […] Seria, provavelmente, impossível fazer para todos os processos; e mais, tal parada produziria uma condição de estagnação e, depois, deterioração(2) (p. 114).
Para melhor entendermos os problemas populacionais citados anteriormente por Waddington, vejamos o que significam as curvas J e S: Curva em J: desenho estatístico que mostra a ocorrência de crescimento na vertente exponencial de determinada população propiciado por um meio ambiente que não apresenta resistências, ou seja, crescimento em condições ideais. Curva em S:desenho estatístico que se refere às condições concretas que decorrem do processo ideal da curva em J,contemplando-se as reações que decorrem das resistências ambientais.
Quais soluções poder-se-iam apresentar à paisagem epigenética, citada por Waddington, que pudesse propiciar pelo menos um esboço de caminho consistente, ou seja, um creodo que apesar das contingências permitisse a homeorrese e a instalação de um sistema em que as catástrofes fossem pequenas? Durkheim(25), em Lições de Sociologia, analisa as regras e as causas que orientam o fenômeno social e o como se apresentar caminhos para propostas adequadas aos cenários epigenéticos anteriormente apontados por Waddington: “Como essas regras se constituíram historicamente, ou seja, quais são as causas que as suscitaram e os fins úteis que elas preenchem. A maneira pela qual elas funcionam na sociedade, ou seja, pela qual são aplicadas pelos indivíduos. […] As causas de que resultou o estabelecimento da regra e as causas que fazem com que ela reine sobre um número maior ou menor de consciências, sem ser identicamente as mesmas, são, no entanto, de tal natureza que se controlam e se esclarecem mutuamente. O problema da gênese e o problema do funcionamento competem, portanto, a uma ordem de pesquisa. Por isso, os instrumentos do método empregado pela física dos costumes e do Direito são de dois tipos: de um lado, há a história e a etnografia comparadas, que nos fazem assistir à gênese da regra, da qual nós mostramos elementos que a compõem, dissociados e depois se sobrepondo gradualmente uns aos outros; e, em segundo lugar, há a estatística comparada, que permite medir o grau de autoridade relativa de que essa regra é investida junto às consciências individuais e descobrir as causas em função das quais essa autoridade varia. Sem dúvida, atualmente, não temos condições de tratar cada problema moral de um e de outro ponto de vista, pois, muitas vezes, nos faltam as informações estatísticas. Mas é importante observar que uma ciência completa deve colocar as duas questões”(25) (p. 2).
A abordagem fundada na metodologia da ciência aplicada aos eventos e fenômenos sociais utilizados por Comte e Durkheim conferiu à Sociologia a transição para que esta fosse estudada no âmbito das chamadas Ciências Sociais. Houve à época, nessas ciências, e persiste até hoje, um chamamento à logicidade (no sentido aristotélico do termo) e métodos, além de correntes doutrinárias que têm ligações com um “estudo causal do desenvolvimento”, portanto, um evoluir epigenético, como ensina Waddington.
Um estudo da causalidade no ambiente científico, especialmente nas ciências humanas, remete-nos ao que Granger(21) afirma: “toda ciência se produz necessariamente no interior de uma linguagem e que, por outro lado, toda a obra humana se apresenta, pelo menos a um dos seus níveis, como sistema significante” (p. 14).
Ramozzi-Chiarottino(26), quando comenta a reflexão piagetiana sobre a linguagem, a ciência e a evolução do conceito de necessário explicado por Piaget e precede a formação das operações e dos esquemas e das transformações do pensar, baseados nos aspectos inferenciais, diz-nos: “Em todos os níveis, a inferência se encontra, assim, no centro dos processos cognitivos muito antes da elaboração das estruturas operatórias gerais e estáveis, escreve Piaget. (…) A amplitude epistemológica desta descoberta é enorme porque ela nos mostra que o normativo, o necessário, aparece como constitutivo de um quadro geral no interior do qual se construirão as operações. Piaget diz que é precisamente a descoberta de uma razão que confere a um liame seu caráter de necessidade. Mas ‘razão’ em que sentido? Talvez ‘como a descoberta de um porque, de um intermediário que explique, que demonstre e torne necessária a ligação de ‘A’ e ‘B’’ (Lalande, 1960, p. 882)”(26) (p. 25).
Onde uma linguagem e, ainda mais, em um sistema de significações e, especialmente, em um sistema significante, permite-nos dizer com ele a constatação da importância inferencial na articulação de uma epistemologia, corroborando o que o dito anteriormente por Ramozzi-Chiarottino(26).
4.3 A REFERÊNCIA BIOPSICOSSOCIAL E EPIGENÉTICA DA MEDICINA PERICIAL
A Medicina Pericial, sob o olhar da vertente biopsicossocial e referendada por proposta de Freire(27), resumida à frente, quando observada dentro do contexto epigenético, traz à reflexão as possibilidades de expansões conceituais que são oportunas e necessárias se compreender. Veja-se o trabalho de Vidaki e Kayser(28) sobre recentes progressos, métodos e perspectivas na epigenética forense: “A epigenética forense, ou seja, a investigação da variação epigenética para resolver questões forenses relevantes que não podem ser respondidas com o perfil de DNA forense padrão, vem ganhando terreno substancial nos últimos anos. A metilação diferencial do DNA entre tecidos e indivíduos foi proposta como recurso útil para três aplicações forenses a) determinar o tipo de tecido de um traço biológico humano, b) estimar a idade de um doador desconhecido, c) mostrar as diferenças entre gêmeos monozigóticos. Até agora, as investigações epigenéticas forenses usaram uma ampla gama de métodos para descoberta de marcadores CpG, modelagem de previsão e análise de metilação de DNA direcionada, todos com vantagens e desvantagens quando se trata de análise forense de traços, detalhes. Nesta revisão, resumimos a literatura mais recente sobre esses três tópicos principais das investigações epigenéticas forenses atuais e discutimos limitações e considerações práticas no projeto experimental e na interpretação de dados, como vieses técnicos e biológicos. Além disso, fornecemos perspectivas futuras no que diz respeito a novas questões de pesquisa, novos marcadores epigenéticos e avanços tecnológicos recentes que como imaginamos moverão o campo para a epigenômica forense em futuro próximo” (tradução livre).
Essa revisão sistemática dos autores sobre os progressos alcançados, as vantagens e desvantagens advindas das pesquisas originadas na epigenética propiciam perspectivas futuras fundadas nos movimentos conceituais que remetem à epigenômica. Nessa perspectiva de evolução conceitual e a consequente expansão de uma inteligência investigativa Médico Pericial – que pode propiciar o olhar perscrutador adequado para as pesquisas a serem realizadas –, apresentam-nos o quanto temos que evoluir a uma velocidade exponencial nessa vertente biopsicossocial da Medicina Pericial.
Em trabalho concluído em 2010, Freire(28) assim define a vertente biopsicossocial da Medicina Pericial: “A Medicina Legal é ciência no sentido da classe definida por Granger, como sob a ótica do frequente aristotélico (hòs epì tò polú –hos epi to polu), termo cunhado por Porchat Pereira. Com esses dois atributos essenciais ‘classe’ e ‘frequente aristotélico’, em que o necessário está presente e não o contingente ou o acidental; necessário este, que não é de menor importância em comparação com o necessário matemático, pois, como vimos, o necessário não tem gradação, ele simplesmente é. A Medicina Legal é definida como ciência dentro dos rigores da Filosofia da Ciência, assim como o demonstramos. Em sendo ciência, ela tem a necessidade de um método, que seja uma via, caminho para o entendimento explicar os fatos, em suma, aquilo que ocorre. Propusemos, então, um método dialético, baseado em Piaget e Kant e contempla: conteúdo e forma das proposições sobre os fenômenos que são simultâneos, sendo o primeiro determinável e o segundo determinante; contempla também o contrário, ou seja, a hipótese rival (aquela à qual ninguém havia pensado); busca a síntese demonstrativa que supera as aporias e, especialmente, a não contradição das proposições. A Medicina Legal, amparada nos pressupostos da Filosofia da Ciência, orientada pelo método dialético, é, sem dúvida, uma ciência Biopsicossocial” (p. 269-270).
Toda ciência da empiria ou as ciências do homem, como nos ensina Granger(4), é construída com a mesma estrutura do discurso, portanto, em uma língua mãe, daí decorre o evoluir, que necessita da perfeita adequação dos pressupostos e proposições aos rigores do pensar científico fundado em uma linguagem própria.
Parafraseando Granger(4), a linguagem possibilita a ciência, ou seja, não somente a ciência como um discurso sobre o objeto, mas também demonstrando como é importante na elaboração, advinda da percepção e da articulação conceitual prévia, que permite a possibilidade reflexiva que produz a ciência e, portanto, a sua epistemologia. Pode-se perceber que as reflexões feitas por Granger(4), à época, levaram-no a concluir: “poder-se-ia dizer que a epistemologia deve, para compreender a ciência, efetuar de forma bastante curiosa, uma espécie de regresso ao aristotelismo” (p. 34)
4.4 A EPISTEMOLOGIA DA EPIGENÉTICA E AS EVIDÊNCIAS FILOSÓFICAS
O retorno a Aristóteles, em pleno século 21, é algo que pode parecer insólito, pois, na época da tecnologia e da ciência aplicada, com tão grande variedade de informações e propostas, pode-se cobrar a necessidade de se apresentar um novo pensar, no entanto, Bertrand Saint-Sernin(29) nos diz: “Husserl subverteu a cronologia: legitimou uma espécie de ubiquidade filosófica que permite passar de Kant para Descartes e de Descartes para Hume, ou procurar um herói da filosofia moderna em um pensador da Antiguidade. Por isso, ele justifica um retorno a Aristóteles. Se demos essa meia-volta é porque o Estagirita é moderno na sua maneira de abordar o problema das categorias, da causalidade, da ação e da justiça. Mas, sobretudo no tratado Da Alma, ele analisa, com uma clareza e uma precisão jamais superadas, a maneira como tentamos pensar simultaneamente no mundo dos sentidos e no universo das formas. Pois a razão, de Aristóteles ou Platão até os nossos dias, é a faculdade de imaginar formas. Aristóteles estabeleceu uma lista aberta de categorias; sua pretensão era aplicá-las ao conhecimento do Ser; ele mostrou, no entanto, que nosso espírito não pode formar ideias sem que o nosso corpo seja tocado pelas sensações. Por isso permanece até hoje um guia incomparável para a reflexão sobre a ciência e a ação. Ele não se fixa em nada; o que faz é limpar, diante os nossos olhos, a história natural do espírito” (p. 180).
Na opinião de Saint-Sernin(29), o Estagirita, em sua filosofia, permanece “um guia incomparável para a reflexão sobre a ciência e a ação”, pois torna claro o percebermos à história natural do espírito. Se Aristóteles tem esse papel no pensar ciência por sua densidade intelectual, pode-se se dizer de sua atualidade? Por exemplo, quando o filosofo abordou a causalidade? Saint-Sernin(29) nos diz: “A concepção aristotélica da causalidade convém perfeitamente, ainda hoje, a uma teoria da ação: Aristóteles ilumina, em particular, o fato de que, quando elabora um plano, aquele que decide analisa os procedimentos que deve cumprir partindo da finalidade e regressando até o ponto em que se encontra. É esse método dos objetivos das partidas que Pascal introduziu para resolver o problema da partilha das apostas quando o jogo é interrompido. Esse mesmo método é frequentemente utilizado na teoria dos jogos. E também nas reconstituições de naufrágios, tomadas de reféns, tentativas de chantagem, que já não nos desorientam tanto neste fim de século. Mas Aristóteles é sobretudo o pai da ética, isto é, de uma moral que, mesmo sendo universal em suas obrigações últimas, jamais perde de vista a singularidade dos seres e das circunstâncias. Vivemos, agimos e pensamos em um mundo cujas formas e forças são instáveis, trabalhadas pelo duplo fermento das nossas intervenções e do seu devir. Em outras palavras, o pensador do trágico é também um analista das crises. E ele não nos parece ultrapassado quando refletimos sobre o final do século XX, e em especial acerca das incertezas que pesam sobre a ciência como teoria.” (p. 186).
Diante do exposto por Saint-Sernin, especialmente no que se refere à causalidade, pode-se fazer a devida relação entre esta e o estudo causal do desenvolvimento, ou seja, a epigenética estabelecida por Waddington, relação esta que é feita por meio da epistéme, que demonstra o real, articula-o e o mostra. Além da demonstração do real, é importante se conhecer pela via epistêmica a relação entre a ação, a forma e o real, que pode ser alterado pelo agir que está presente no espírito humano. Parafraseando Aristóteles, pode-se dizer que a tinta, o mármore, a madeira, o som, o calor não estão no espírito, porém, as formas que se podem atribuir ou criar a partir desses conteúdos estão presentes no espírito e este pode agir e modificar a matéria, dando a ela destino, utilidade, objetividade e arte.
A visão epistêmica da ciência e, em consequência da epigenética, especialmente sob o olhar da contemporaneidade, remete-nos aos complexos, intrincados e interconectados grupos de sistemas do conhecer e há uma epistemologia bem definida por Granger(21), quando este, a exemplo de Kant, pergunta: como é possível a ciência? Tomando-se o cuidado de não a tornar uma “hermenêutica do mito,” ou, ainda, repercussões em nossas consciências, ele nos diz: “a atitude epistemológica não visa esse reflexo da ciência na consciência individual ou na vida social; mas sim a prática da ciência, no seu processo de criação e aplicação” (21)(p. 22).
Para se definir um evoluir epistêmico da epigenética, que, sob o aspecto técnico, evidentemente, evoluiu, pois, passou de um conceito para uma nova abordagem da biologia teórica e para uma categoria do pensar ciência, é necessário se ver como foi construído esse edifício chamado ciência. Granger(21) orienta esta reflexão: “O edifício científico encontra-se necessariamente em desequilíbrio e constantemente em progresso. O erro não desempenha aí apenas o papel de um acidente psicológico, mas faz, por assim dizer, parte integrante do movimento do espírito que cria a ciência; a tal ponto que se poderia pensar em definir paradoxalmente o conhecimento científico como o conhecimento errôneo. […] Poder-se-ia mesmo dizer que o progresso da ciência consiste, em parte, em fazer passar um erro do estado vulgar – quer dizer, de saber não formulado e ambíguo –, ao estado de erro científico, quer dizer, de saber refutável. Nesse sentido, a ciência não para de se destruir a si própria para renascer, ou melhor, para nascer verdadeiramente. A investigação das condições de possibilidade da ciência não pode consistir, por consequência, numa descrição a priori de formas transcendentais fechadas, que traçariam o esquema de todo o conhecimento científico. É na perspectiva desta recusa que fazemos nossa, a afirmação de Jean Cavaillès de que a epistemologia tem necessidade, não de uma filosofia da consciência, mas de uma filosofia do conceito. Esta filosofia do conceito não seria senão a interpretação das elaborações progressivas do erro científico” (p. 23-24).
A epistemologia precisa, segundo Granger, de uma filosofia do conceito, que interprete “as elaborações progressivas do erro científico”. Diante das possibilidades de proposições que tentam formular respostas para as instabilidades do edifício da ciência, que evolui pela formulação de propostas e, ora as aceita, ora as refuta, impõe-se uma filosofia do conceito que explique o denominado, erro científico, faça a devida análise, avalie e encontre resposta, pelo menos, por determinado tempo. Para tanto, há a necessidade de se voltar ao que é o conceito, ou seja, ver-se qual o conceito de conceito, em uma condição que se pode chamar até de metafísica, como alguns dizem e disseram. No entanto, se partimos de uma reflexão sobre o conceito, é necessário pelo menos designarmos o que ele é.
Para Kant(5), conceito “é a unidade mental do múltiplo” e, sobre esse conceito, cabe a devida reflexão para que uma filosofia do conceito seja apresentada com o devido rigor filosófico. Se o conceito é a unidade mental de alguma coisa ou coisas conseguidas pela experiência, pelos sentidos e ou sensações e tem diversas possibilidades de denominações, necessariamente, inclui o termo múltiplo definido por Kant. Se nos referirmos a toda definição, que é sintética, clara e abrangente, ou seja, é a unidade que congrega, alinha e remete para além dela, para o múltiplo, os horizontes se alargam quase ao infinito, além da impropriedade matemática e topológica aqui incluídas.
Uma filosofia do conceito nos remete ao texto inicial deste artigo, pois o começamos dizendo que ele seria fundado sobre o termo conceito e, especialmente, sobre os conceitos de epigênese e epigenética, o que foi realizado em todo o decorrer deste trabalho.
Conclusão
Um estudo epistemológico conceitual sobre os temas epigênese e epigenética na vertente biopsicossocial, ancorado nos fundamentos da ciência – representada aqui pela díade Medicina/Filosofia, especialmente ancorada na possibilidade nomológica contida na Medicina Pericial –, foi cumprido neste artigo. O estudo foi realizado com os cuidados que se deve tomar com temas em processo de evolução. Os temas epigênese e epigenética estão realmente em uso, como instrumental do pensamento definido por Waddington(2) e, melhor ainda, como diz ele, “paisagens epigenéticas”. Os processos evolutivos do conceito inicial da epigenética, enquanto estudo causal do desenvolvimento lavrado por Waddington, na década de 1940, progrediu para a subsequente área da biologia, que estuda as modificações e regulações que ocorrem no mundo fenomênico da biologia e, mais ainda, no ambiente da Medicina Pericial; para as possibilidades de heranças genéticas reversíveis que ocorrem durante a vida e não impactam o DNA. Modificações e regulações que ocorrem por ações externas à estrutura gênica e ainda podem agir em conjunto ou não, com a metilação do DNA, com as modificações nas histonas e pela expressão do RNA não codificante em forte perspectiva de estar no caminho de participar da epigenômica. Atuando esses instrumentos – tanto dentro dos eventos fisiológicos, portanto, normais, quanto nos desvios ou aberrações, que podem levar à doença e mesmo à morte, objeto de reflexão doutrinária e metodológica –, foi possível afirmar, ao final, que os termos epigênese e epigenética têm também características biopsicossociais que estão fortemente presentes na Medicina Pericial.
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