Monique Favero Beceiro (1)
Letícia Morais Prado Corrêa Meyer (1)
Daniela Barros Almeida (1)
Victor Alexandre Percinio Gianvecchio (2)
Maria Helena Prado de Mello Jorge (3)
Daniele Muñoz (4)
(1) Médica pós-graduanda do Curso de Especialização em Medicina Legal e Perícia Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
(2) Coordenador Técnico do Curso de Especialização em Medicina Legal e Perícias Médicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
(3) Professora Senior Faculdade de Saúde Pública da USP
(4) Coordenadora Técnico do Curso de Especialização em Medicina Legal e Perícias Médicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
INTRODUÇÃO: o suicídio é um grave problema de Saúde Pública, afetando pessoas de quase todas as idades e acarretando elevados custos econômicos e sociais. Sabe-se, porém, que sua ocorrência na população é subestimada em todo o mundo, com destaque para parcelas específicas da população como os profissionais de saúde. Estes têm altas taxas de transtornos mentais, absenteísmo laboral e taxas de suicído, atribuídas a alta carga de trabalho, recursos ampliados e estresse financeiro.
OBJETIVO: Traçar o perfil dos profissionais de saúde que se suicidaram no período de 2015 no Estado de São Paulo segundo fonte de dados da Secretaria de Saúde Pública(Boletins de Ocorrência Policial – BO, laudos necroscópicos e toxicológicos do IML), caracterizar este grupo do ponto de vista epidemiológico e analisar possíveis fatores de risco.
MÉTODO: trata-se de estudo transversal descritivo.Criou-se um banco de dados do suicídio no ano de 2015 no Estado de SP. Neste grupo, foi separada a amostra de profissionais da saúde a fim de caracterizá-la e estabelecer semelhanças e diferenças da amostra total. As variáveis estudadas foram relativas às características da vítima, do evento, das lesões, presença de álcool e/ou drogas no momento da morte, presença de trastornos mentais diagnosticados e possível motivação para o suicídio.
Resultados: Dentre os 2.469 casos de suicídio ocorridos no Estado de São Paulo em 2015, 58 foram em profissionais de saúde (2,3% da amostra), porém, com destaque para positividade do exame toxicológico destes acima de 50%, sendo 12,3% (n=7) da amostra testada positiva para etanol. Nesta, 24% (n=14) eram médicos, 12% enfermeiros e 10% auxiliares e tecnicos de enfermagem e farmacêuticos, cada. A média de idade foi 42,1 anos, com sua maioria, 51,7% (n=30) no grupo adulto I, homem 57% (n=33) e brancos 91,4% (n=53). A maioria 72,4% (n=42) cometeu o ato em sua residência, sendo somente 15,5% (n=9) nos seus locais de trabalho. O tipo de suicídio predominante na amostra foi enforcamento com 37,9% (n=22) e intoxicações com 27,5% (n=16), sendo 69% das intoxicações por drogas anticonvulsivantes, sedativos, hipnoticos, antiparkinsonianos e psicotropicos não classificados. A causa médica da morte fora asfixia para 37,9% (n=22) da amostra, intoxicação para 13,8% (n=8) e 7% (n=4) de politraumatismos.30 pessoas (51,7%) foram referidas em algum momento como portadora de trantornos mentais. Sendo que 34, 5% apresentava transtorno depressivoe 16,7% destes apresentavam mais de um transtorno mentalalém da depressão (representavam 8,6% da amostra total), com destaque para uso de álcool e uso de outras drogas. 50% dos portadores de transtornos mentais realizaram tratamento de tais doenças previamente e apenas 36,6% fazia uso de medicamentos para tal.17,2% (n=10) apresentara tentativas anteriores ao ato suicída e também 10 pessoas deixaram mensagem para familiares ou amigos.
CONCLUSÃO: O destaque do grupo de profissionais de saúde foi um equilíbrio entre as amostras dos sexos em comparação com a população total do estudo e nos casos de morte por intoxicação a substância utilizada em sua maioria foi medicamento. Além disso, houve uma maior prevalência de indivíduos com transtornos mentais quando comparada a população geral do estudo, porém o número de casos de transtornos depressivos foi menor, contando com uma parcela de transtorno decorrente do uso e abuso de substâncias, incluindo o álcool.O tipo de suicídio predominante fora enforcamento, porém em menor proporção que a amostra geral. O local de ocorrência do ato preponderou o domicílio, mas com proporção menor do que na população geral, cujo destaque fora o ato no seu local de trabalho. A limitação encontra-se na variável em destaque, ocupação, que tem uma elevada proporção com casos de informação ignorada, 33% da amostra total (n=814), o que não permitiram ação mais apurada. Melhorias na qualidade da informação devem ser pensadas com enfoque em melhoria dos dados apurados e estratégias de prevenção à esta população específica da amostra. Alem disso, há uma escassez de dados sobre outros profissionais de saúde além do médico, sendo necessários estudos com diferentes profissionais de saúde.