Os autores informam não haver conflito de interesse.
REPORT ON CASES OF DEATH PRESUMED TO BE CAUSED BY DEFECTIVE AIRBAGS, FOLLOWING AUTOPSIES CONDUCTED BY THE TECHNICAL-SCIENTIFIC POLICE OF RIO DE JANEIRO
Claude Jacques Chambriard (1)
http://lattes.cnpq.br/6391220773880758 – https://orcid.org/0000-0003-0124-0930
Celso Eduardo Jandre Boechat (2)
http://lattes.cnpq.br/2447425607329018 – https://orcid.org/0000-0002-7030-4929
Larissa Admiral das Chagas (3)
http://lattes.cnpq.br/8140294124793006 – https://orcid.org/0000-0002-0230-4900
(1) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (autor principal)
(2) Polícia civil do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rj, Brasil (autor secundario)
(3) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (autor secundário)
E-mail: claudechambriard@yahoo.com.br
RESUMO
Introdução: Os airbags representam uma importante medida de segurança passiva em veículos automotores, projetados para proteger os ocupantes em caso de colisão. No entanto, há indícios de que seu mal funcionamento possa provocar lesões, conforme indicado pelo breve resumo histórico de dados e literatura sobre o uso de airbags, desde os primeiros protótipos até sua implementação em larga escala. Relato dos casos: São apresentados sete casos de mortes necropsiadas em postos da Polícia Científica do Estado do Rio de Janeiro, tendo como causa a ação, em tese, defeituosa de airbags. Discussão: Seis casos avaliados apresentam um padrão único de lesões penetrantes causadas por, em tese, mau funcionamento de airbag, resultando na implantação de um fragmento metálico de componente do inflador. Conclusão: Ainda que os airbags colaborem para a segurança no trânsito, é necessário observar suas condições corretas de uso e manutenção, bem como atenção à recalls.
Palavras-chave: air bag; acidente rodoviário; morte; takata
ABSTRACT
Introduction: Airbags represent an important passive safety measure in automotive vehicles, designed to protect occupants in the event of difficulties. However, there are accusations that its malfunction could cause injuries, as supported by a brief historical summary of data and literature on the use of airbags, from the first prototypes to their large-scale implementation. Case reports: The author present seven cases of deaths investigated by the Scientific Police of the State of Rio de Janeiro, resulting from, in theory, defective airbags. Discussion: Six of the cases evaluated present a unique pattern of penetrating injuries caused, in theory, by airbag malfunction, which resulted in implantation of a metallic fragment of the inflator component. Conclusion: Although airbags contribute to traffic safety, it is necessary to observe their correct conditions of use and maintenance, as well as pay attention to recalls.
Keywords: air bag; road accident; death; takata
1. INTRODUÇÃO
- 1. BREVE RESUMO HISTÓRICO DOS AIRBAGS
Os primeiros protótipos de airbags foram desenvolvidos nos anos 1950 e 1960, com o objetivo de proporcionar uma camada adicional de proteção aos ocupantes de veículos durante colisões (1).
Os airbags foram introduzidos pela primeira vez na década de 1950, no entanto, não foram generalizados até a década de 1990, quando passaram a ser amplamente utilizados com a aprovação de novas legislações que obrigam sua instalação em carros novos (2), tornando-se um recurso padrão em praticamente todos os veículos produzidos atualmente (3).
A administração nacional de segurança no trânsito nas rodovias (National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA) estima que quase 50.000 vidas foram salvas por airbags desde 1987 (4).
Quando os airbags foram introduzidos na década de 1970, prometiam um novo nível de segurança para os consumidores. A NHTSA estima que os airbags no painel reduziram as mortes de motoristas em 29% e as mortes em 32%. Quando se combina o uso do cinto de segurança e do airbag o risco de morte é reduzidom em aproximadamente 61%. Estas percentagens equivalem a um número significativo de vidas salvas e é por isso que os airbags frontais são exigidos em todos os veículos de passageiros novos, desde 1999 (4).
Apesar do impacto significativo na mitigação de danos, os próprios airbags têm sido associados a padrões únicos de lesões. Nas últimas duas décadas, houve muitos relatos de lesões relacionadas ao mau funcionamento dos airbags, muitas delas catastróficas.
Mais recentemente, em 2015, múltiplas vítimas levaram ao recall de milhões de veículos em todo o mundo, devido a componentes defeituosos do inflador no airbag, que ocasionou explosões que liberavam o recipiente metálico do propulsor com alta força, resultando em lesões do tipo balístico (4).
- 2. COMO FUNCIONAM OS AIRBAGS EM ACIDENTES DE CARRO
Airbags são almofadas infláveis embutidas em carros que são acionadas em acidentes para proteger motoristas e passageiros evitando choques do corpo de encontro com o interior do veículo e, até mesmo com objetos externos (como outro carro ou uma árvore) durante um acidente de carro.
Os airbags possuem sensores que medem a gravidade do impacto do acidente no momento em que o acidente acontece. Se a colisão for suficientemente grave, os sensores dos airbags sinalizarão para que os airbags sejam inflados e acionados.
Os airbags frontais são projetados para inflar em acidentes de carro com impacto frontal moderado a grave. O objetivo de um airbag frontal é evitar que a cabeça e o peito de uma pessoa batam em uma estrutura rígida do veículo. Os airbags mais recentes têm um sensor de cinto de segurança que determina se os airbags devem ser acionados com base no fato de alguém estar usando cinto de segurança.
Os airbags laterais são projetados principalmente para proteger motoristas e passageiros contra lesões na cabeça e no peito. Eles inflam em colisões laterais para evitar que a cabeça das pessoas bata em partes duras dentro do carro e em objetos externos que possam passar pelas janelas, incluindo partes de outros carros, árvores ou postes.
Os airbags laterais criam uma almofada e distribuem a carga de impacto para evitar que qualquer parte do corpo de alguém sofra uma força de impacto sustentada e concentrada. Os airbags laterais que protegem a cabeça são especialmente importantes, pois podem ser a única coisa entre a cabeça de uma pessoa e outro veículo em uma colisão com vidros quebrados.
Os airbags consistem em cinco partes (fig. 1): o acelerômetro detecta mudanças repentinas na velocidade do carro e quaisquer impactos, acionando o circuito que ativa o elemento de aquecimento, que detona a carga explosiva, inflando rapidamente o airbag de náilon com gás nitrogênio a 200 milhas por hora.
O tempo necessário entre a detecção de falha e a implantação completa é de aproximadamente 0,05 segundo. Esta força rápida, embora normalmente salve vidas, tem o potencial de causar danos catastróficos.
A figura 1 traz esquema do funcionamento normal do airbag.

As fotografias seguinte apresentam os airbags inflados do motorista e passageiro (fig.2) e lateral (fig.3).


- 3. POSSÍVEIS CAUSAS DE ACIDENTES RELACIONADOS A AIRBAGS
Várias causas podem contribuir para acidentes relacionados a airbags (5), incluindo:
- Mau funcionamento do sistema: defeitos de fabricação, desgaste ou danos podem levar ao mau funcionamento do sistema de airbags.
- Inflagem excessiva: em casos raros, os airbags podem inflar com uma força excessiva, aumentando o risco de lesões aos ocupantes do veículo.
- Desdobramento não intencional: falhas no sistema elétrico ou eletrônico do veículo podem causar o desdobramento não intencional dos airbags.
- Instalação inadequada: a instalação incorreta do airbag ou o uso de peças de reposição de baixa qualidade podem comprometer sua eficácia em caso de colisão.
Embora seja possível que os airbags matem, é um mito que os airbags causem mais mortes e ferimentos do que as vidas que salvam e os ferimentos que evitam.
Os airbags são projetados para manter os motoristas e todos os passageiros do carro seguros. No geral, eles salvam vidas e reduzem e limitam as lesões e suas probabilidades, em fator muita maior do que a probabilidade de causar lesões em seu acionamento. Por esta razão, a presença de airbags frontais tornou-se obrigatória em todos os veículos fabricados a partir de 1999 (4).
Os airbags laterais e outros não são exigidos da mesma forma, mas muitos fabricantes de automóveis também oferecem airbags laterais como equipamento padrão ou opcional em novos modelos de veículos de passageiros e alguns carros têm até airbags de teto solar.
Na maioria das vezes, lesões ou mortes relacionadas a airbags são causadas por seu mau funcionamento, como previamente citado, mas também por motoristas ou passageiros sentados muito perto do volante ou painel ou sem cinto de segurança. Os airbags oferecem maior proteção quando as pessoas usam os cintos de segurança corretamente.
- 4. COM QUE FREQUÊNCIA OS AIRBAGS MATAM PESSOAS?
Felizmente, ferimentos graves e mortes causadas por airbags são raros. Às vezes, a energia usada para inflar rapidamente um airbag em um acidente pode ferir alguém sentado muito próximo de seu local de instalação ou aguém que seja jogado de encontro ao airbag no acidente. Esta foi uma preocupação principalmente na primeira geração de airbags frontais, uma vez que eles eram acionados com maior força do que os airbags frontais em veículos mais novos.
Estima-se que os airbags frontais acionados causaram cerca de 300 mortes em acidentes de baixa velocidade entre 1990 e 2008, de acordo com um relatório da National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA) (5). Quase 90% destas mortes ocorreram em automóveis fabricados antes de 1998. A maioria das mortes foi de passageiros, especificamente crianças e bebes.
As regras federais de segurança dos airbags agora incentivam os airbags frontais a terem energia reduzida quando acionados. Esta modificação teve início em 1998.
Em 2007, a NHTSA emitiu nova regra certificada de airbag anterior que exigia que todos os veículos de passageiros fabricados a partir de sua emissão tivessem airbags mais sofisticados, com padrões de acionamento do airbag munidos, por exemplo, de sensores de peso que detectam um motorista menor, um passageiro no banco dianteiro ou uma cadeira de criança (4).
- 5. MORTES PROVOCADAS POR AIRBAG DEFEITUOSO
- 5.1. Breve histórico
Os airbags tradicionalmente usavam propelentes à base de azida de sódio, mas as preocupações com os vapores tóxicos associados à azida de sódio levaram a fabricante Takata a explorar alternativas na década de 1990, passando a promover o uso de um propulsor à base de tetrazol, considerado mais seguro do que a azida de sódio (6).
Durante uma colisão, um dispositivo chamado inflador de airbag acende um explosivo químico, como já explicado anteriormente. Os fabricantes utilizam diferentes tipos de produtos químicos em seus produtos, mas todos queimam rapidamente e geram um gás inofensivo, geralmente nitrogênio ou argônio. O gás infla uma bolsa de náilon para proteger o motorista ou passageiros.
Mas houve problemas com os infladores construídos na fábrica da Takata em Coahuila, no México. Takata usou nitrato de amônio como composto explosivo nesses airbags (6), o mesmo explosivo usado no atentado de Oklahoma City em 1995. Este composto torna-se instável se for exposto a calor ou umidade excessivos, causando sua explosão, que podem transformar os invólucros metálicos dos infladores em estilhaços voadores que podem ferir e matar motoristas e passageiros.
Na gravura disponibilizada a seguir (figura 4), demonstra-se o funcionamento defeituoso encontrado nos airbags em recall da empresa Takata que, quando inflado, explodia, liberando estilhaços em várias direções, ferindo e até mesmo, matando ocupantes do veículo.

Em todo o mundo, cerca de 36 mortes e 350 feridos graves ocorreram como resultado de lesões provocadas por airbags Takata defeituosos, sendo 24 nos EUA e pelo menos duas pessoas na Austrália, sendo esta estatística até o mês de fevereiro de 2018, de acordo com a Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário (NHTSA) e a mídia especializada (7, 8).
A descoberta do mau funcionamento dos airbags resultou no que foi descrito pela Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário (NHTSA) como “o maior e mais complexo recall de segurança na história dos EUA”, iniciado em 2008 e com grande aumento no número de veículos atendidos em maio de 2015 (7). Em casos relatados na literatura, as lesões e mortes ocorreram por fragmentos de metal, provenientes do airbag defeituoso, atingindo o motorista em alta velocidade (9).
- 5.2. Não usar cinto de segurança aumenta a chance de ser morto por um airbag
Das mortes causadas por airbags frontais, mais de 80% envolveram pessoas que não usavam cinto de segurança ou que não o usavam corretamente. Crianças e bebês são particularmente vulneráveis a fatalidades com airbags se não usarem os cintos de segurança corretamente. A maioria das mortes de passageiros que não usavam cinto de segurança eram crianças. Os bebês em assentos voltados para trás também eram especialmente vulneráveis porque suas cabeças estavam muito próximas do airbag acionado. Esta é uma das muitas razões pelas quais você nunca deve colocar um bebê ou criança em uma cadeirinha voltada para trás no banco dianteiro de um veículo, a menos que seja absolutamente necessário.
- 5.3. Sentar muito perto do volante aumenta a chance de ser morto por um airbag
Sentar muito perto do volante aumenta a chance de um acidente fatal para motoristas em acidentes de carro com airbags acionados, devido a alta velocidade de inflagem, que ocorre em cerca de 1/20 segundo, atingindo 320km/h. (9). Na maioria das vezes, essa rápida inflação e implantação salva vidas e previne lesões, mas também pode causar ferimentos graves. Isto é especialmente verdadeiro para condutores baixos e idosos, pois tendem a sentar-se mais perto do volante, tornando-os mais vulneráveis a lesões causadas pelo enchimento dos airbags frontais.
Os airbags acionados rapidamente podem ter até 2.000 libras de força, portanto, sentar-se mais perto de um airbag pode tornar o motorista e o passageiro muito mais suscetíveis a lesões causadas por um airbag acionado.
- 6. LESÕES MAIS COMUNS DO ACIONAMENTO DO AIRBAG
Muitas partes do corpo podem ser expostas ao airbag, causando diversas lesões possíveis durante o processo de acionamento. As mais comuns são (10):
- Lesões Faciais: devido ao posicionamento dos airbags, a face é o alvo mais comum durante uma colisão. O airbag evita que seu rosto entre em contato com o para-brisa; no entanto, a força do airbag pode atingir seus olhos ou fraturar ossos frágeis da face. São possíveis lesões oculares, incluindo cegueira temporária ou permanente. Concussões também podem ocorrer se o impacto for forte o suficiente.
- Lesões no Tórax: pelo mesmo motivo, se o airbag colidir com o corpo do passageiro, a área do tórax pode ficar vulnerável a lesões.
- Lesões nas regiões cervical e dorsal: a coluna cervical também é vulneráveis ao impacto de um airbag. Embora seu corpo seja impedido de ser empurrado para a frente como faria de outra forma, danos aos tecidos moles ainda podem ocorrer.
- Fraturas dos membro superiores: a proximidade do antebraço à porta do módulo do airbag está relacionada à maioria das fraturas identificadas. Os disparos do airbag no volante podem arremessar a mão-antebraço contra o painel de instrumentos, espelho retrovisor ou para-brisa (11, 12).
- Queimaduras: a velocidade de acionamento do airbag pode causar abrasões ou queimaduras na pele. A face e os membros superiores são os mais propensos a sofrer este tipo de lesão.
- Lesões alérgicas: os produtos químicos liberados durante a insuflação do airbeg podem irritar os pulmões ou até causar ataques de asma. A pele também pode ficar irritada, causando uma condição conhecida como dermatite do airbag.
- Orgãos internos: além disso, pressão suficiente no abdômen pode causar danos como lacerações em órgãos, incluindo fígado, baço, pulmões e coração.
2. APRESENTAÇÃO DOS CASOS
Nesta série de casos, apresentamos mortes relacionadas ao possível mau funcionamento do inflador de airbag, em sete corpos, que foram necropsiados pela Polícia Científica do Estado do Rio de Janeiro no período compreendido entre os anos de 2020 e 2024, de acordo com a tabela a seguir.
CASO | DATA | OCORRÊNCIA ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO POSIÇÃO DA VÍTIMA | LESÕES ENCONTRADAS | SEXO |
CASO 1 | 01/2020 | MOTORISTA | FERIMENTO PENETRANTE DO PESCOÇO, COM LESÃO VASCULAR E CONSEQUENTE HEMORRAGIA.. | MASCULINO |
CASO 2 | 07/2020 | MOTORISTA | FERIMENTO PENETRANTE DO CRÂNIO, COM LACERAÇÃO DO ENCÉFALO.. | MASCULINO |
CASO 3 | 03/2021 | MOTORISTA | FERIMENTO PENETRANTE DO PESCOÇO, COM LESÃO VASCULAR, E TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR. | MASCULINO |
CASO 4 | 06/2021 | MOTORISTA | FERIDA PENETRANTE FACE-CRANIANA COM LESÕES INTERNAS.. | FEMININO |
CASO 5 | 06/2022 | MOTORISTA | FERIMENTO TRANSFIXANTE DO PESCOÇO, COM LESÃO VASCULAR E HEMORRAGIA EXTERNA. | MASCULINO |
CASO 6 | 03/2023 | MOTORISTA | FRATURA COMINUTIVA DO ESTERNO, LACERAÇÃO DO CORAÇÃO E VASOS DA BASE | MASCULINO |
CASO 7 | 04/2024 | MOTORISTA | FERIMENTO PENETRANTE DE BASE DA REGIÃO CERVICAL ASSOCIADO A FRATURA DE VERTEBRA CERVICAL | MACULINO |
Em seis dos sete casos necropsiados, foi encontrado material metálico, no interior das lesões, compatível com o existente no airbag; o único caso no qual não foi encontrado material metálico no interior da lesão, caso de nº5, o cadáver apresentava ferida transfixante de região cervical.
A seguir (figura 5), apresentamos, como exemplo, material encontrado no interior da lesão no caso nº4. Trata-se de um pedaço de material metálico, com formato cilíndrico oco, com espessura de aproximadamente 2 milímetros, apresentando diâmetro aproximado de 22,32 milímetros (ou 2,23 centímetros) e aproximadamente 18 gramas de peso. Uma das faces ou extremidades apresenta bom acabamento, original e sem deformação aparente digna de nota, e a outra extremidade com bordas irregulares com características provenientes de ruptura do material. À esta extremidade irregular, observa-se ainda seis semi-orifícios (metade de furos) distribuídos de forma simétrica e alinhados de três em três e em duas alturas distintas.

Na figura 6, é possível visualizar um fragmento metálico do componente do inflador como um material de projétil penetrante, encontrado na região cervical do caso nº 3.

3. DISCUSSÃO
Nas últimas três décadas, os airbags revolucionaram a segurança dos veículos motorizados e tiveram um impacto significativo na prevenção de lesões (13). No entanto, não foi provado que seja um sistema infalível. Dada a força significativa criada pela sua implantação, vários padrões de lesões foram descritos com vários relatos de mortes (2, 14).
O impacto de uma força traumática contundente pode produzir lesões na região da cabeça e pescoço, incluindo fraturas faciais, lesões na coluna cervical, lesões orbitárias, queimaduras, bem como lesões no tronco, como fraturas de costelas, pneumotórax, lesões aórticas (15).
Nos casos aqui apresentados, foi encontrado um componente de projétil similar ao relatado em necropsias nas vítimas que resultaram em recalls em grande escala de veículos em 2015 devido a infladores defeituosos de um único fabricante, Takaka (16).
Os veículos de nossa série tinham pelo menos nove anos ou mais no momento do acidente. A idade de um veículo pode ser um fator de risco para mau funcionamento do airbag do veículo. Além disso, é possível que a elevada umidade e temperatura ambiente a longo prazo (como na nossa região, por exemplo) possa ter uma contribuição para o disparo dos airbags ao longo do tempo, tornando-os propensos a explodir quando acionados (6).
4. CONCLUSÃO
Os airbags desempenham um papel crucial na proteção dos ocupantes de veículos automotores durante colisões, não sendo, entretanto, motivo para que as regras de direção segura sejam negligenciadas, subestimando o perigo que cerca cada acidente automobilístico.
No entanto, é importante estar ciente das possíveis causas de acidentes relacionados a esses dispositivos, seguir as recomendações do fabricante, e garantir que eles sejam instalados e mantidos corretamente para garantir sua eficácia.
5. AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de reconhecer a colaboração dos co-autores Vinicius Domingos Ferreira, Claudio Amorim Simões, Sérgio Janário Juliano Stutz, Alberto Jorge de Souza Carvalho e Edilo Sudo. Estes colegas participaram ativamente na confecção deste artigo mas não puderam ser nomeados entre os autores por não disporem de registro Lattes e Orcid.
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