Os autores informam que não há conflito de interesse.
Luciana Barroso de Azevedo (1)
Mary Laura Garnica Perez Villar (2)
Ana Paula Ferraz Martins dos Santos (2)
(1) SEPCRJ; SEPMERJ; SLM; FACOP; UNBF
(2) POLICIA CIVIL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Em 15/02/2022, ocorreu na cidade de Petrópolis, uma das maiores tragédias relacionadas a enchentes e deslizamentos e que vitimizaram 232 pessoas, das quais 44 eram menores de idade. O presente trabalho aborda o caso da menor M. M. S, sexo feminino, 13 anos cujo métodos tradicionais de identificação não lograram êxito, devido ao estado de putrefação apresentado e pela falta de registros antemortem para confronto.
Entretanto, um dos centros radiológicos de odontologia da cidade, ao ver a lista de desaparecidos, identificou em seu arquivo a documentação odontológica de MMS, contendo imagens de exames odontológicos radiográficos e imagem 3D de scaneamento intraoral. Foi realizada pelo próprio centro radiológico, impressão 3D de modelo em resina obtido pelo arquivo STL do arco superior, e este foi enviado para a perícia, viabilizando desta maneira um novo estudo do caso em busca de informações úteis nessa documentação. As informações radiográficas mostraram-se limitadas no fornecimento de dados para confronto. Isso ocorreu devido a alteração da dentição que no momento do exame se tratava de dentição mista com apenas 4 elementos permanentes erupcionados e 1 semi erupcionado. Contudo, o modelo em resina apresentado, possuía ótima qualidade das impressões das rugosidades palatinas.
A identificação do cadáver de guia 192, recebido no Serviço Médico Legal do PRPTC- Petrópolis no dia 21/02/2022, foi realizado pelo método de análise das rugosidades palatinas. A rugoscopia palatina, também referida como palatoscopia, é um método de identificação humana baseado na análise das pregas palatinas em termos de forma, tamanho, quantidade e posição. As rugas palatinas consistem em relevo anatômico na mucosa, localizado no terço médio anterior do palato duro, caracterizado por um sistema de pregas que estão firmemente aderidas ao plano ósseo subjacente. É importante ressaltar que o conjunto de rugosidades palatinas é assimétrico na espécie humana desenhando um modelo único para cada indivíduo. Cabe esclarecer que as rugosidades palatinas elas, como as impressões digitais, são formadas intrauterinamente e se mantém em forma e número até depois da morte, desta forma, pode-se afirmar que as rugosidades palatinas, assim como as impressões digitais são individuais e imutáveis. Necessário, porém, para a identificação de um corpo por esta técnica, que haja registro prévio para que se possa gerar comparação positiva para identificação. No caso em questão, isso foi possível devido a guarda do arquivo stl convertido em modelo impresso.
No que se refere ao exame realizado no cadáver de guia 192, as rugosidades palatinas presentes no corpo foram minuciosamente registradas tornando em um material post mortem de qualidade para a etapa do confronto. Tais registros foram comparadas com o modelo de resina da arcada superior e, mostravam-se compatíveis o que foi determinante para se estabelecer a identidade da menor.
Conclusão: A obtenção de modelos dos arcos dentários apresenta uma nova realidade devido ao scaneamento intraoral. Devido as novas tecnologias que permitem o armazenamento de dados em formatos digitais, o fornecimento desses registros tendem ser cada vez mais rotineiros, possibilitando um crescente número de identificações pelos métodos odontológicos. A avaliação das rugosidades palatinas como material de confronto com objetivo de estabelecimento de identidade, tende a ser cada vez mais comuns.