Perfil Epidemiológico da Intoxicação Exógena no Brasil de 2012 a 2023

Os autores informam que não há conflito de interesse.

INTRODUÇÃO: intoxicação exógena é uma expressão que compreende ao efeito nocivo de substâncias que, em contato com o organismo humano, tem potencial para gerar alteração clínica/ metabólica grave em um indivíduo, podendo levá-lo, inclusive, a óbito. O objetivo do presente trabalho é traçar um perfil epidemiológico no Brasil de 2012-2023 trazendo a relevância do tema de acordo com algumas das informações adquiridas, bem como o impacto dessas tanto para fins de planejamento (estratégias de saúde) quanto para elucidação dos casos onde a toxicologia forense estará presente para os devidos esclarecimentos legais.

MÉTODO: estudo epidemiológico transversal e descritivo baseado em informações coletadas no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) disponibilizados no banco de dados DATASUS – TABNET. Foram selecionados dados referentes à intoxicação exógena no período de 2012 a 2023, cruzando o total de casos com as seguintes variáveis: local, gênero, faixa etária, agente tóxico, evolução e circunstância.

RESULTADOS: no levantamento de janeiro de 2012 a dezembro de 2023, observou-se um total de 1.660.427 registros, sendo 2023 o ano com maior número de notificações com um total de 216.647 casos. Destacam-se: maior prevalência no estado de São Paulo (351.944 casos), seguido pelas notificações ignoradas/exterior (347.540 casos), estado de Minas Gerais (187.745 casos) e Paraná (153.303 casos). O gênero de maior acometimento é o feminino (964.153 casos) e a faixa etária de maior prevalência é a de 20-39 anos (710.114), acompanhada pela faixa de 40-59 anos (315.680) e dos 15-19 anos (238.746) em terceiro lugar. A via mais utilizada é a medicamentosa (827.141 casos), em segundo lugar as drogas de abuso (209.560), seguida por alimentos e bebidas (105.642). Em relação à evolução 1.253.108 casos obtiveram cura sem sequelas, 27.701 cura com sequelas e 14.328 evoluíram para óbito. Por fim, a grande maioria dos casos de intoxicação envolveu tentativas de suicídio, totalizando 725.462 casos registrados.

DISCUSSÃO: os dados apresentados mostram o perfil epidemiológico relacionado às intoxicações exógenas no Brasil de 2012 a 2023 trazendo, portanto, um panorama nacional no que diz respeito ao tema nos últimos 12 anos. De acordo com os resultados, houve grande uso de medicações seguidas por drogas de abuso, totalizando pouco mais de 62% dos casos. O gênero feminino totaliza 58% dos dados obtidos e a faixa etária dos 20 aos 59 anos totalizaram 61,7% das ocorrências, além da maior prevalência na região sudeste do país (41,7% do total) e a notável associação às tentativas de suicídio (43,7% do total). Em posse dessas informações e compreendendo as variáveis obtidas e que foram descritas, é possível utilizá-las para viabilizar, de forma mais eficiente e direcionada, os recursos necessários para as equipes de saúde voltando-as para o acolhimento, tratamento e seguimento dos indivíduos que, dentro das estatísticas mencionadas, possuem maior risco e exposição aos agentes mais utilizados. Outros pontos relevantes envolvem:
1) a atuação da toxicologia forense em relação aos óbitos dessa natureza e investigação de todos os casos considerados suspeitos;
2) preenchimento adequado do formulário próprio do SINAN, já que as intoxicações exógenas são consideradas um evento de notificação compulsória mesmo que seja um evento suspeito.

CONCLUSÃO: uma vez que essas informações sejam fornecidas corretamente, é possível conhecer as nuances relacionadas a esses dados, tornando possível gerir melhor os orçamentos públicos e direcionando os recursos de forma mais efetiva tanto na prevenção da intoxicação exógena quanto para a atuação da toxicologia forense na investigação e esclarecimento dos óbitos e eventuais casos suspeitos passíveis de implicações legais.


Referencias bibliográficas