Os autores informam que não há conflito de interesse.
Fabiana Dias Mol (1)
Luciana de Paula Lima Gazzola (2)
(2) Universidade Federal de Minas Gerais
(1) Faculdade Supremo
INTRODUÇÃO: A violência é considerada uma das formas de violação dos direitos humanos e atinge homens e mulheres com proporções e maneiras diferenciadas. Ocorre, de modo muito banalizado, em corpos femininos, sendo a violência contra as mulheres reconhecida como um dos principais problemas de saúde pública global. O patriarcado, com sua formação machista, de controle e imposição de medo, fundamenta uma dominação do homem sobre a mulher, enquanto esta tem o dever de subordinação, por meio de uma organização social que privilegia o masculino.
OBJETIVO: Diante dessa realidade, este trabalho tem como objetivo analisar se há a influência do patriarcado, enraizado nas estruturas familiares, nos casos de violência contra a mulher, bem como identificar a predominância de comportamentos que geram ou podem gerar atos de violência doméstica.
MATERIAL E MÉTODOS: O trabalho foi construído por meio de uma pesquisa quantitativa, com entrevistas a partir do uso de formulário digital, tratando-se de um estudo de caso baseado em uma investigação empírica, pois a análise se fez com base no comportamento e experiência dos entrevistados. Foram formuladas 29 perguntas objetivas com respostas em padrão de múltipla escolha e uma pergunta aberta e livre, com espaço disponível para comentários e/ou relatos pessoais. As perguntas objetivas abordavam temáticas como: os tipos de brinquedos usados na infância, quem era o responsável pelos afazeres domésticos na família, como se constituíam os casamentos dos pais e avós dos entrevistados, que tipo de conduta se considera ato de violência, se o(a) entrevistado(a) já foi agredido(a), conhece alguma mulher que já tenha sido e algum homem agressor, se já agrediu alguma mulher, se há alguma parte responsável por um ato de agressão, se é possível existir estupro em uma relação conjugal, se o(a) entrevistado(a) toma alguma conduta ao presenciar um ato de violência contra a mulher, dentre outras. Foram obtidos 418 questionários respondidos e a revisão das entrevistas foi feita como método de análise de dados e comparações por combinações de respostas em gráficos.
RESULTADOS: Os resultados indicam que há, ainda, uma estruturação patriarcal nas relações familiares, que pode fundamentar atos de violência expressos não somente por meio de agressões físicas, como também verbais, de opressão e preconceito. Respostas significativas corroboram a existência de uma formação conservadora e cultural, de hierarquia e poder masculino, dentro dos lares, podendo ter, na maioria dos casos, as diversas formas de violência de gênero como resultado. Ressalte-se a disparidade nas respostas, entre homens e mulheres, às perguntas sobre se o(a)s entrevistado(a)s já foram agredidos, conhecem alguma mulher agredida ou algum homem agressor ou se já agrediu uma mulher. As respostas masculinas são desproporcionais à quantidade de mulheres que já foram agredidas, como se existissem mais mulheres agredidas por homens do que homens que consideram agredirem ou terem agredido mulheres.
DISCUSSÃO: O histórico de machismo em uma estrutura de criação patriarcal ainda persiste em muitas famílias e não se constitui fato isolado, fundamentando uma tendência de aceitação de domínio da mulher por um poder masculino. O patriarcado impõe na sociedade uma relação de dominação sobre as mulheres, buscando legitimar, inclusive, a violência contra elas como forma de punição e castigo, culpabilizando-as em casos de violência de gênero.
CONCLUSÃO: Ainda se observa alguma naturalização da condição de dominação-subordinação no âmbito familiar, em proporções bem diferentes em relação aos comportamentos masculinos e femininos. O combate à violência institucionalizada contra a mulher depende de mudanças estruturais, conceituais e comportamentais na sociedade e nas famílias, no sentido da garantia da liberdade e autonomia das mulheres sobre seus próprios corpos.